O Globo, n. 31483, 18/10/2019. País, p. 6

Crise no PSL dificulta ida de Eduardo para embaixada

Gustavo Maia
Amanda Almeida
Gabriel Garcia


Aliados do presidente Jair Bolsonaro admitem que a crise no PSL se tornou ingrediente com potencial de dar um fim à novela da indicação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) para a embaixada do Brasil em Washington. Oficialmente, o porta-voz da Presidência, Otávio do Rêgo Barros, afirma que a indicação “está mantida e oportunamente será encaminhada mensagem ao Senado”. Mas auxiliares próximos classificam a situação como “indefinida”.

No Senado, que precisa aprovar o nome do deputado para o cargo diplomático, aliados do governo avaliam que a derrota de Eduardo para a liderança do PSL na Câmara deixou a situação “insustentável”.

Anunciada em julho por Bolsonaro, a pretensão de mandar o filho para os Estados Unidos nunca foi oficializada. Depois de prometer enviar a indicação ao Senado na volta dos trabalhos legislativos em agosto, Bolsonaro adiou a previsão para a semana após o feriado de 7 de setembro. Mais recentemente, pessoas próximas ao presidente estimavam o envio para depois da votação da reforma da Previdência.

A discórdia

Na noite de anteontem, no auge da guerra para destituir Delegado Waldir (GO) da liderança do PSL na Câmara, uma declaração de Eduardo irritou senadores que vinham pedindo voto para ele no Senado. Ele afirmou que a discussão sobre a Embaixada em Washington tornara-se “secundária” neste momento de acirramento da briga no partido.

— Todos os temas como a embaixada e a viagem para a Ásia são temas secundários. A gente está aqui para cuidar dos nossos eleitores, meu foco é ajudar o país —disse Eduardo, que depois perdeu a disputa pela liderança.

Para um governista, é momento de Eduardo recuar da indicação e anunciar que não pretende mais se tornar embaixador.

— Não tema menor condição de e leda ruma declaração pública dizendo que uma desavença no partido é mais importante do que um posto diplomático tão importante para o país. Ou quer ser líder do PSL ou quer ser embaixador do Brasil em Washington — disse um senador ligado a Bolsonaro e ao presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

A indicação de Eduardo vem enfrentando resistência de senadores de diferentes partidos, que publicamente declararam que o consideram incapacitado para o cargo. Ele vinha tentando reverter o cenário com visitas aos senadores. Nas últimas semanas, porém, diminuiu os encontros.

Para ser aprovado, Eduardo tem de passar por sabatina na Comissão de Relações Exteriores. No colegiado e no plenário, enfrenta ainda votação secreta.

Apesar das adversidades, o presidente da comissão, Nelsinho Trad (PSD-MS), diz que espera receber a indicação de Eduardo depois da votação da reforma da Previdência, prevista para semana que vem.

— O campo fica livre, propício, para o encaminhamento desta mensagem (após a votação da Previdência). Caso ela não venha neste período, aí pode ter alguma coisa que foge até do nosso conhecimento, de percepção (do presidente Bolsonaro) em relação ao não envio desta mensagem — diz Nelsinho.