O Globo, n. 31483, 18/10/2019. Sociedade, p. 36

De onde saiu o óleo

Rafael Garcia
Gabriel Shinohara


O ponto de origem do despejo de óleo que segue poluindo o litoral do Nordeste, atingindo novas áreas e retornando a outras que já haviam sido limpas, está em uma área entre 600 km e 700 km da costa brasileira, numa faixa de latitude com centro na fronteira entre Sergipe e Alagoas.

Essa área foi determinada por pesquisadores da Coppe/ UFRJ, o Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, com uma simulação de computador.

A pedido da Marinha, os pesquisadores Luiz Landau e Luiz Paulo Assad rodaram um modelo matemático de correntes marinhas no Atlântico e cruzaram os dados com o mapa de manchas de óleo encontradas na costa do Nordeste.

Ao inverterem o sentido temporal do modelo de computador, a partir dos pontos de destino do óleo fragmentado, chegaram a uma estimativa sobre sua origem. O centro da área apontada pelos cientistas fica fora da zona econômica exclusiva do Brasil, em águas internacionais.

— Estávamos interessados em entender a origem desse descarte ou vazamento de óleo —disse Landau ao GLOBO.

— Encerramos essa parte da análise, que já foi entregue para a Marinha. Na semana que vem, vamos começar a trabalhar em tentar entender como vai ser a dispersão do óleo daqui para frente.

Segundo os pesquisadores, a estimativa da provável origem do vazamento não pode ser rastreada a uma área menor porque é difícil saber quando exatamente cada mancha chegou em cada praia do Nordeste. As datas oferecidas pelo Ibama são referentes ao momento em que o óleo foi detectado e notificado, não necessariamente ao instante em que cada praia recebeu o material.

— Além disso, existe muita incerteza com relação à trajetória do óleo, porque ele correu abaixo da superfície, o que dificulta muito a analise —afirma Assad.

— Não sabemos quanto tempo esse óleo demorou para “intemperizar”, ou seja, sofrer processos de mudanças da características físico-químicas para entrar abaixo na coluna d'água.

Segundo os pesquisadores, agora que os dados estão nas mãos da Marinha, eles esperam que a pesquisa contribua para o rastreamento de embarcações que podem ter sido responsáveis pelo incidente.

“Bala perdida”

Em audiência na Comissão de Meio Ambiente no Senado, ontem, o almirante Alexandre Rabello de Faria, chefe do Estado Maior do Comando de Operações Navais, afirmou que a Marinha trabalha com quatro possibilidades sobre o tipo de incidente que gerou o derrame: o vazamento em operação transferindo conteúdo de navio para navio, o naufrágio de um petroleiro, o derramamento acidental e o despejo intencional.

O almirante afirmou que a primeira e a segunda possibilidades não foram descartadas, mas são pouco prováveis. Nos casos de derramamento acidental ou intencional, mais plausíveis, a situação é criminosa porque não foi feito o comunicado.

— Peço desculpas pela comparação, mas temos uma bala perdida. Um projétil que se espalhou em toda acosta brasileira. Temos o projétil, temos a evidência. Estamos procurando a arma equem a usou. A dificuldade dessa investigação é muito grande — disse o almirante.

Na mesma audiência, o presidente do Ibama, Eduardo Bim, afirmou que o perfil do incidente é incomum e que as medidas usualmente aplicadas não funcionam.

— É um incidente inédito, com uma tipologia totalmente diferente de um incidente ordinário de óleo.

Segundo Bim, o trabalho de contenção é difícil porque parte do petróleo afundou. O instituto decidiu focar seus esforços em retirar as manchas de óleo.

O Ibama informou ontem que o vazamento atingiu mais sete pontos do litoral, totalizando 178 localidades afetada sem 72 municípios, incluindo Maragogi( A L) e Pontada Tabatinga (RN), onde a Marinha achou mais um tonel de óleo boiando, além de dois que apareceram em Sergipe.