O Globo, n. 31483, 18/10/2019. Sociedade, p. 36

Manchas chegam à baía de Todos os Santos e cartões postais de Salvador

Alexandro Mota


O óleo que polui a costa brasileira desde 30 de agosto chegou ontem à Baía de Todos os Santos, a maior do país, atingindo as pedras e a faixa de areia da região do Farol da Barra, que fica em Salvador e é uma das pontas de acesso à baía, e as praias de Vera Cruz, cidade que fica na ilha de Itaparica.

Na capital baiana, onde o óleo chegou na terça-feira, as pelotas de petróleo cru apareceram ontem pela primeira vez em quatro praias, totalizando 14 trechos da orla afetados, mas que já foram limpos. O problema chegou de modo discreto na praia do Farol da Barra, mas em intensidade preocupante em Pedra do Sal, praia do bairro de Itapuã —outro cartão postal da cidade.

A prefeitura de Salvador afirmou ter retirado, somente ontem, 47 toneladas de óleo das praias, já somando 71,5 toneladas. A estimativa do governo da Bahia é de 155 toneladas de óleo retiradas em todos os nove municípios baianos atingidos, o que não inclui o que chegou aos manguezais, que ainda não foi calculado.

O superintende do Ibama na Bahia, Rodrigo Alves, explica que, embora o problema já tenha afetado 176 praias no litoral nordestino, de acordo com o último balanço do órgão, em apenas 21 praias há o que os especialistas chamam de “manchas”, que são trechos com maior poluição e que ainda não foram limpos.

— Salvador amanheceu, por exemplo, com as praias todas limpas às 7h da manhã. Às 10h, novos pontos de óleo apareceram. Tem sido um trabalho diário de monitoramento, inclusive de praias que já estão limpas e são afetadas novamente. Como a fonte é indefinida, nossa previsibilidade não é de altíssimo alcance. As prefeituras estão fazendo um excelente trabalho, temos tido muitos voluntários, a Marinha também tem ajudado na limpeza —afirma Alves.

Ontem, o governador Rui Costa (PT) se reuniu com representantes das cidades atingidas, definindo estratégias para a limpeza e armazenamento do material recolhido. Ao final da reunião, cobrou resposta do governo federal, indicou que os estados não estão sendo informados sobre as ações para descobrir a origem do problema e anunciou que se juntará ao Ministério Público Federal em ação contra a União que pede atuações preventivas para que o óleo não chegue às praias.

O Ibama indica a dificuldade de monitoramento do óleo em alto mar, mesmo com uso constante de embarcações da Marinha. A preocupação do instituto agora é que o óleo siga avançando na direção sul e afete a parte interna e do fundo da Baía de Todos os Santos, este último um trecho considerado ecologicamente sensível, por ser área de manguezal.