O Estado de S. Paulo, n. 46925, 09/04/2022. Economia & Negócios, p. B7

Diretor vai lidar com saneamento, mas é graduado em Ciência Política

Amanda Pupo 


Para representantes do setor de saneamento, a falta de experiência na diretoria da ANA pode deixar a agência exposta a influências externas, gerando insegurança. “A pauta de gestão de recursos hídricos e a nova pauta de regulamentação de saneamento exige, na avaliação de quem é técnico, experiência na história de construção desses temas”, disse presidente da Associação Brasileira de Recursos Hídricos, Cristóvão Vicente Scapulatempo.

O diretor executivo da Associação Brasileira das Concessionárias Privadas de Serviços Públicos de Água e Esgoto (Abcon), Percy Soares, segue a mesma avaliação: “A nova diretoria da ANA tem o desafio de estabelecer uma confiança do mercado na ANA sobre os rumos que a agência vai adotar, após a diretoria ser reformulada quase que integralmente.”

Dentre os nomes aprovados, somente o de Verônica Sanchez da Cruz Rios, oriunda do Ministério da Economia, tem experiência direta com a área. No Ministério do Desenvolvimento Regional, participou da formulação do marco legal. Procurador federal, Maurício Abijaodi Lopes de Vasconcellos já atuou na agência, mas em cargos menos ligados ao mérito das atividades do órgão.

Os outros dois indicados tiveram maior rejeição. Geóloga, Ana Carolina Argolo Nascimento de Castro hoje ocupa um cargo no Ministério de Minas e Energia. Mas sua carreira profissional foi construída na iniciativa privada. Sua relação com o secretário executivo da Casa Civil, Jônathas Assunção, gerou desconfiança. Como mostrou o Estadão/broadcast, ela foi casada com o número 2 da pasta, chefiada pelo ministro Ciro Nogueira (PP).

No caso do indicado Filipe de Mello Sampaio Cunha também houve receio, já que ele, graduado em Ciência Política, é irmão do ministro da Infraestrutura, Marcelo Sampaio.

Servidores. A Associação dos Servidores da ANA (Aságuas) reagiu à indicação de ambos e chegou a enviar ao Senado ofício levantando preocupações com os nomes. Para os servidores, as escolhas não respeitam a Lei Geral das Agências Reguladoras, que cobra experiência profissional dos indicados na área regulada pelo órgão.

Procurada, a ANA afirmou que em 2021 publicou as normas previstas, e que a área técnica está trabalhando para a publicação das normas de referência previstas para esse ano, em atendimento à Agenda Regulatória. / A.P