O Estado de S. Paulo, n. 46925, 09/04/2022. Política, p. A12

Ciro nogueira recebeu propina da J&F, diz PF

Rayssa Motta 


Em relatório final sobre uma investigação envolvendo o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, a Polícia Federal afirma que líder do Progressistas recebeu propinas do grupo J&F e cometeu crimes de corrupção passiva e de lavagem de dinheiro. As conclusões da PF foram enviadas ontem ao Supremo Tribunal Federal.

Os volumes da investigação também serão encaminhados ao procurador-geral da República, Augusto Aras, a quem cabe decidir se apresenta uma denúncia contra o ministro ou se arquiva o inquérito. A PF não pediu o indiciamento de Nogueira em razão do foro por prerrogativa de função.

De acordo com o delegado Rodrigo Borges Correia, o senador licenciado e hoje ministro recebeu, em 2014, repasses do grupo J&F em troca do apoio do Progressistas para a campanha à reeleição da então presidente Dilma Rousseff (PT). Nogueira dirige o partido há quase uma década.

O ponto de partida da investigação foram as delações premiadas do empresário Joesley Batista, dono da J&F, e do executivo Ricardo Saud, que foi diretor de Relações Institucionais do grupo. "Não há como não dar veracidade para versão apresentada pelos colaboradores. Sendo assim, salvo melhor juízo, conclui-se que Ciro Nogueira Lima Filho recebeu a promessa de obter vantagem ilícita para adiar uma reunião, na qual seria decidido o destino do Partido Progressista, no que se refere à continuidade de apoio político ao governo de Dilma Rousseff", diz um trecho do relatório.

Ainda segundo a PF, além de R$ 40 milhões em doações eleitorais para o Progressistas regularmente declaradas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Nogueira recebeu outros R$ 5 milhões em dinheiro vivo. Os valores teriam sido repassados em um supermercado que fica em Teresina, no Piauí, para o irmão do político.

Educação. Nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro para comandar a Casa Civil em julho do ano passado, Ciro Nogueira também está envolvido no caso de liberação irregular de recursos da educação. Há pedido para que ele preste esclarecimentos sobre sua interferência no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), órgão que organizou licitação com preço inflado de ônibus escolares.

A defesa de Nogueira afirmou que "estranha" o relatório da PF. "A conclusão é totalmente baseada somente em delações que não são corroboradas com nenhuma prova externa. Até porque a narrativa das delações não se sustenta. O império das delações falsas e dirigidas não mais se sustenta", disseram os advogados do ministro, em nota. •