Título: Garotinho diz que conversa com Lula mas não faz aliança
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 13/04/2005, País, p. A2

Ex-governador e Michel Temer voltam a levantar bandeira da candidatura própria

O secretário de Governo do Rio de Janeiro, Anthony Garotinho, afirmou ontem em Brasília que está disposto a conversar com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas que isso não vai mudar sua posição partidária. - Quem se recusaria a conversar com o presidente? Ele é um agente político da maior importância. Mas se ele estiver pretendendo uma aliança para 2006, a minha resposta será não - disse Garotinho.

Garotinho chegou a Brasília, acompanhado pelo ex-presidente do BNDES, Carlos Lessa. Eles vieram para encontros com o presidente do PMDB, Michel Temer, e com o presidente do Senado, Renan Calheiros.

Num dia em que o PMDB dava mostras para o governo da sua força no Congresso, Garotinho e Temer reforçaram o discurso de independência em relação ao Planalto e voltaram a levantar a bandeira da candidatura própria para a presidência em 2006.

O ex-governador também garantiu ter conversado com o presidente nacional do PMDB, deputado Michel Temer (SP) e com o presidente do diretório regional do PMDB em São Paulo, o ex-governador Orestes Quércia, após as audiências destes com o presidente Lula. Segundo Garotinho, a reabertura do diálogo entre as partes mostra que o PMDB é importante para o país e que não fugirá às suas responsabilidades.

- Tudo isto poderia ter sido evitado se o Planalto tivesse conversado com a direção do partido, sem buscar atalhos - cutucou Garotinho, em entrevista após o encontro com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

Temer também manteve a disposição de realizar prévias, em meados do ano que vem, para que o partido possa escolher quem será o candidato à sucessão de Lula. Tanto ele quanto Garotinho lavaram as mãos quanto às acusações e denúncias de malversação do dinheiro público envolvendo o ministro da Previdência Social, Romero Jucá.

- Até onde eu sei, Jucá é um parlamentar competente, foi um relator atuante. Mas sei pouco sobre as denúncias. Esta discussão cabe a quem o indicou para o cargo - alfinetou Garotinho.

Lessa, que se orgulha de ser do PMDB do U - PMDB do Ulysses Guimarães - aproveitou a vinda a Brasília para alvejar a política econômica do governo, em especial a manutenção das altas taxas de juros. Ele será o responsável pelo programa alternativo do PMDB para a campanha peemedebista de 2006. Segundo o ex-presidente do BNDES, com os juros nas alturas, os produtores acabam repassando os percentuais para os preços, prejudicando os consumidores.

- A última eleição presidencial consolidou no governo Lula a idéia de mudança, que acabou não acontecendo. Há uma necessidade de se mostrar ao FMI: veja como sou comportado - criticou Carlos Lessa.

Para o ex-reitor da UFRJ, não adianta o governo Lula anunciar que não renova o acordo com o FMI e manter as metas de superávit primários acima dos limites exigidos pelo Fundo.

- Se a alma e o coração estão com o Fundo, o acordo formal, evidentemente, torna-se dispensável - acrescentou Lessa.