O Globo, n.31.586, 29/01/2020. Economia. p.22

Coronavírus: aumenta demanda por máscaras
Karen Garcia 


O surto de coronavírus que surgiu na China já tem reflexos na produção de máscaras cirúrgicas no Brasil. Para lidar com a demanda maior, as empresas recorrem a turno adicional, destinam o aumento da produção ao mercado externo e não descartam contratar pessoal. Outro impacto é nos preços: uma fabricante reajustou o produto em 30%.

Conforme antecipado pela Folha de São Paulo, a 3M Brasil e Sky Descartáveis já estão sendo procuradas pela China para fornecerem materiais de proteção. Segundo a 3M, a fabricação de respiradores está sendo intensificada a nível mundial. No Brasil, a produção é direcionada majoritariamente ao mercado doméstico. A empresa tem uma unidade na China, que cuida da demanda naquele país, que poderá receber apoio de subsidiárias em outros países.

FALTA DE MATERIAL NA CHINA

A fabricante Protdesc, em Santa Bárbara d’Oeste (SP), planeja dobrar a produção ainda esta semana, passando de 3 mil para 6 mil caixas (cada uma com 50 unidades) por dia. Segundo o gerente comercial da empresa,César Pedro,o novo turno visa dar conta dos pedidos. Ele não descarta contratações temporárias para atender à demanda:

— Durante a gripe suína, em 2009, fomos pegos de surpresa. Chegamos a ter fila de espera. Estamos nos precavendo para conseguir atender ao mercado. Pode durar uma semana, 15 dias, um mês. Essa análise vai ser feita quase que diariamente.

Com uma população de 1,4 bilhão de habitantes, a China já registrou mais de 5 mil casos de coronavírus, com mais de cem mortes. Segundo o jornal britânico Guardian, hospitais já registram falta de respiradores e suprimentos médicos nas áreas de quarentena. Cinco das 12 principais empresas produtoras de máscaras da província de Guangdong interromperam o feriado do Ano Novo Lunar para retomar a produção. O país é um dos principais produtores de máscaras descartáveis do mundo e, com a alta do consumo interno, a exportação será reduzida. A fabricante Ana Dona, de Guarulhos (SP), já reajustou o preço das máscaras em cerca de 30%.

— Nos últimos dois dias, cresceu a procura de empresas exportadoras e consulados baseados na China. Estimamos dobrar a produção semanal, de 200 mil para 400 mil unidades, mas nosso foco é o mercado interno. Não pretendemos investir em uma produção para suprir uma demanda que não se sabe se vai durar uma semana ou um mês — disse o vendedor Igor Belloni.

Para a Sky Descartáveis, que fornece material para clínicas, hospitais e distribuidores que atuam na América Latina, a demanda ainda é especulativa. Mas a empresa disse estar trabalhando para garantir o estoque para vendas.

DE PRODUTOR A IMPORTADOR

Em nota, a Sky relatou que “muitas pessoas querem comprar e exportar para a China”. A empresa também observou uma demanda maior no mercado interno, com uma preocupação em relação à prevenção e a não deixar faltar material nos hospitais.

Também em nota, a 3M Brasil informou que está trabalhando junto aos distribuidores para garantir os estoques e assegurou estar comprometida em apoiar a saúde pública no que se refere ao coronavírus.

— A China é o maior produtor de máscaras descartáveis do mundo. E o caminho será o inverso agora, deve importar. Essa situação tende a impactar a economia mundial, uma vez que há uma diminuição do consumo por conta dos pacientes em quarentena —afirmou o presidente da Câmara de Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang.

Ele ressaltou que o governo chinês está tomando “medidas drásticas” para lidar com o surto:

— Quando terminou a Sars (Síndrome Respiratória Aguda, em 2003), a economia logo se restabeleceu. Esperamos que o mesmo ocorra com o coronavírus.

 

Multinacionais restringem viagens de negócios à China


O Facebook e outras multinacionais, como LG Electronics, HSBC e a brasileira Vale, estão restringindo viagens de funcionários para a China. O país já registrou mais de uma centena de mortos pelo coronavírus.

Companhias aéreas também estão cancelando voos e ajustando horários, à medida que um número crescente de países eleva os alertas de viagem não apenas para a província de Hubei, onde eclodiu o surto, mas para o resto da China continental. A United Airlines vai suspender mais de 20 voos para o país a partir de sábado.

O maior banco da Europa, o HSBC, proibiu sua equipe de viajar para Hong Kong por duas semanas e para a China continental até um novo aviso, segundo um memorando interno obtido pela Reuters.

—Estamos pedindo às pessoas que viajaram para a China continental ou que entraram em contato com alguém que viajou para lá ou passou pela província de Hubei nos últimos 14 dias que fiquem emcasaporumperíodode14 dias corridos — disse uma porta-voz do HSBC.

O banco americano Goldman Sachs impôs medidas semelhantes, segundo memorando visto pela Reuters.

NISSAN VAI RETIRAR EQUIPE

O Facebook foi a primeira grande empresa americana a anunciar uma suspensão de viagens após o alerta dos EUA, na segunda-feira. A empresa pediu aos funcionários que suspendessem as viagens não essenciais à China continental. Aqueles que já estiveram no país trabalharão em casa, informou um porta-voz:

— Com muita cautela, tomamos medidas para proteger a saúde e a segurança de nossos funcionários.

Já a fabricante sul-coreana de eletrodomésticos LG proibiu completamente as idas à China e aconselhou os funcionários em viagens de negócios no país a voltarem para casa o mais rápido possível, disse uma porta-voz.

A Honda recomendou que os funcionários evitem viajar para a China, enquanto a Nissan planeja evacuar sua equipe japonesa, com as respectivas famílias, que está em Wuhan por meio de um voo fretado pelo governo.

A mineradora Vale suspendeu, por tempo indeterminado, as viagens de negócios para a China, seu principal cliente, bem como daquele país para qualquer unidade da companhia, como medida de prevenção. Os empregados da Vale na China estão em regime de trabalho remoto. Já as atividades em portos asiáticos seguem normalmente.