O Globo, n. 31502, 06/11/2019. País, p. 8

Operação mira Dilma e senadores do MDB
Jailton de Carvalho


A Polícia Federal fez ontem uma operação de busca e apreensão em endereços de empresários e supostos laranjas ligados a parlamentares do MDB do Senado. Os agentes também intimaram políticos de outros partidos, além de ex-ministros suspeitos de participarem de esquema de repasses ilegais da JBS.

Os investigadores pediram em junho a prisão temporária da ex-presidente Dilma Rousseff, do ex-ministro Guido Mantega, do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Vital do Rêgo e do ex-senador Eunício Oliveira (MDBCE). O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Edson Fachin rejeitou todas as solicitações, assim como o procurador-geral da República, Augusto Aras.

Entre os alvos da operação estão também os ex-presidentes do Senado Renan Calheiros (AL) e Jader Barbalho (PA), além do governador do Pará, Helder Barbalho; os senadores Eduardo Braga (AM) e Dário Berger (SC); o ex-senador Valdir Raupp (RO); o ex-deputado Paulo Bornhausen; e o ex-ministro Edinho Silva (PT), além do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Todos foram intimados a prestar esclarecimentos, assim como Vital do Rêgo e Guido Mantega. O ex-presidente Lula foi intimado na carceragem da PF, no Paraná. Os pedidos de busca foram feitos pela Procuradoria-Geral da República e autorizados por Fachin. O ministro do STF determinou que a polícia e o Ministério Público mantenham a operação em sigilo.

As investigações tiveram

origem na delação de executivos da J&F, controladora da JBS. Senadores do MDB teriam recebido cerca de R$ 40 milhões em recursos da empresa durante a campanha de 2014. O dinheiro seria uma forma de consolidar o compromisso do grupo com a campanha que levou à reeleição de Dilma.

Em nota, a ex-presidente classificou seu pedido de prisão como “absurdo diante do fato de não ser ela mesma investigada no inquérito em questão” e afirmou estar à disposição da Justiça. O senador Renan Calheiros, que estava em Alagoas ontem, pediu para prestar esclarecimentos em outra data.

— O senador nunca se negou a colaborar com qualquer investigação. Está à disposição — diz Luis Henrique Machado, advogado de Renan.

O advogado do ex-presidente Lula, Cristiano Zanin Martins, afirmou em nota que o petista “sempre se colocou à disposição para qualquer esclarecimento às autoridades” e que, quando tiver acesso aos autos, “a mesma conduta será adotada”. Zanin também defendeu que “Lula não praticou qualquer ilícito e é vítima de ‘lawfare’, que consiste no uso perverso das leis e dos procedimentos jurídicos para fins políticos”.

A defesa de Eduardo Braga reiterou que o senador está à disposição para colaborar com as investigações. A assessoria de Jader Barbalho afirmou que o senador entrou em contato com a PF para agendar nova data e prestar “todos os esclarecimentos necessários”. Helder Barbalho disse, por meio de sua assessoria, que sua “campanha a governador foi realizada somente com recursos oficiais, devidamente registrados e aprovados pelo Tribunal Regional Eleitoral”.

Em nota, a assessoria de Vital do Rêgo disse que ele “é o maior interessado em esclarecer os fatos” e atenderá a solicitação da Justiça. O ex-ministro Guido Mantega informou, por meio de nota, que já fez contato com autoridades para agendar comparecimento e que “prestará todos os esclarecimentos no interesse das investigações”. Dário Berger, Edinho Silva, Raupp e Bornhausen não se manifestaram.

O pior cenário

Avançam na justiça eleitoral os pedidos de registros de novos partidos. Existem 76 protocolados, à espera de decisão judicial.

O país convive com 32 legalizados, dos quais 30 têm representação no congresso.

A pulverização partidária nesse nível não é comum, e nem salutar ao fortalecimento institucional.

No caso, reafirma a progressão no pior dos cenários: a transformação da política partidária em negócio, fomentado pela perspectiva de aumento contínuo nos repasses de subvenções custeadas pelo dinheiro público.