O Globo, n. 31486, 21/10/2019. País, p. 6

PSL: terceiro nome para liderança já ganha força

André de Souza
Daniel Gullino


A briga pela liderança do PSL na Câmara, protagonizada na semana passada pelos deputados Delegado Waldir (GO) e Eduardo Bolsonaro (SP), vai continuar nos próximos dias. Há insatisfação com Waldir, que é o atual líder, mesmo entre seus aliados, o que pode levar à escolha de um terceiro nome. Mas os apoiadores de Eduardo insistem que o filho do presidente ainda é o mais indicado para a tarefa, mesmo após as tentativas frustradas de tomar o cargo de Waldir.

O deputado Coronel Tadeu (SP), que na semana passada assinou a lista de apoio a Delegado Waldir, já fala abertamente que é preciso encontrar um nome de consenso. Ele critica deputados dos dois lados que, nas suas palavras, ficam atacando um ao outro em vez de procurar uma solução. Na semana passada, Waldir disse que implodiria o presidente Jair Bolsonaro, pai de Eduardo, e o chamou de vagabundo.

— Nós estamos tentando achar um nome de consenso para substituir Waldir. É necessária a saída dele. O que ele falou do presidente não me agrada. E ele sabe que pisou na bola. Vamos achar este nome até terça-feira, se Deus quiser —disse Tadeu.

O pano de fundo é a briga entre Bolsonaro e o presidente do partido, Luciano Bivar, pelo controle do PSL. Bolsonaro atuou diretamente para tentar tirar Waldir da liderança, substituindo-o pelo filho. No grupo ligado ao presidente, colocar Eduardo no cargo continua sendo a prioridade, já que há preocupação com o impacto nas votações e na composição de comissões. A discussão sobre continuar ou não no PSL ficou em segundo plano com a viagem do presidente à Ásia e ao Oriente Médio.

— Estou muito fixado na questão da liderança, em função do impacto que isso tem no trabalho na Câmara. Essa questão partidária, maior, extrapola isso. Nós vamos seguir para onde o presidente for — afirmou o líder do governo na Câmara, Vitor Hugo (GO).

Numa transmissão ao vivo na internet, Eduardo declarou que não tinha intenção de assumir a liderança, mas fora convencido por aliados.

O deputado Júnior Bozella (SP), que assinou a lista para manter Waldir na liderança, disse que a saída do atual líder era programada, uma vez que haverá eleição para o cargo em dezembro. Mas afirmou que, se necessário, isso poderá ocorrer antes:

— Pode até ser que a gente antecipe a eleição em determinado momento se sentir alguma necessidade.

Deputados suspensos

Na briga pela liderança, a ala pró-Bolsonaro teve baixas na semana passada, quando a Executiva do PSL suspendeu cinco deputados. Eles ficam proibidos de participar de qualquer atividade partidária, incluindo assinar uma lista para a troca de liderança. Vitor Hugo afirma que a suspensão ainda não foi oficializada e que, se for, será contestada na Justiça. Entretanto, a deputada Carla Zambelli (SP), uma das punidas, acredita que é possível conseguir a maioria mesmo com os cinco votos a menos, apesar de admitir uma dificuldade:

— Tem cinco deputados que estão em conversa conosco e estarão do nosso lado. Tem casos de pessoas que acharam que a lista de apoio ao Waldir não era nada demais. A intenção segue sendo colocar Eduardo na liderança, mesmo se o próprio grupo de Bivar retirar Waldir.

— Para nós, o Eduardo é o nome que tem melhores condições de pacificar o partido nesse período de transição. Estamos com esse mesmo diagnóstico de que já começaram a tirar o apoio ao Waldir. O que nós desejamos é que entendam que o Eduardo é o melhor nome para essa transição —disse Vitor Hugo.

Entre os adversários de Eduardo, foi lançada a ideia de suspendê-lo do partido e até mesmo levá-lo ao comitê de ética. É o que defende Bozella, por exemplo. Já Coronel Tadeu, crítico do filho do presidente, é contra, mas avalia que o comportamento de Eduardo o atrapalha.

— Vamos tentar apaziguar, mas pelo que vejo nas redes sociais, ele (Eduardo), a cada meia hora, ataca uma pessoa. Então acho que ele não quer a paz —justifica Tadeu. Procurado, Delegado Waldir não quis se manifestar.