Correio Braziliense, n. 21397, 16/10/2021. Política, p. 2

Relator da CPI quer indicar Bolsonaro

Raphael Felice


No parecer que entregará na próxima terça-feira, o relator da CPI da Covid, Renan Calheiros (MDB-AL), vai propor o indiciamento do presidente Jair Bolsonaro; de três filhos do chefe do Executivo, o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ); e de ministros do governo, além de médicos. O relatório será votado na quarta-feira.
Calheiros imputa 11 delitos ao presidente da República, entre os quais epidemia com resultado morte, infração de medidas sanitárias, emprego irregular de verba pública, crime de responsabilidade e homicídio por omissão (veja quadro).

Já Eduardo e Carlos Bolsonaro serão relacionados por incitação a crimes sanitários, porque teriam propagado fake news sobre o novo coronavírus, incitando o negacionismo. Flávio, por sua vez, é citado por advocacia administrativa, por ter intermediado encontro do sócio da Precisa Medicamentos, Francisco Maximiano, com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

No relatório de Calheiros também será pedido o indiciamento do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello. Ele deve ser acusado de sete crimes: epidemia com resultado em morte, incitação ao crime, emprego irregular de verbas públicas, prevaricação, comunicação falsa de crimes, genocídio indígena e crimes contra humanidade.
Também estão no parecer os ministros da Saúde, Marcelo Queiroga; do Trabalho, Onyx Lorenzoni; e da Controladoria-Geral da União, Wagner Rosário.

Segundo a cúpula da CPI, Queiroga se converteu "ao negacionismo de Bolsonaro". Há cerca de dois meses, o ministro da Saúde suspendeu a vacinação de adolescentes do Plano Nacional de Imunizações. Em junho, sugeriu diálogo sobre o "tratamento precoce", durante evento da Organização Mundial da Saúde (OMS). Mais recentemente, durante viagem de comitiva brasileira a Nova York, ele compartilhou publicação que colocava em xeque a eficácia das vacinas e das máscaras e insuflava o uso de medicamentos sem eficácia contra a covid-19, como cloroquina e ivermectina. Na volta ao Brasil, Queiroga ainda discursou contra o passaporte de vacinas e a obrigatoriedade do uso da máscara.

Onyx Lorenzoni, por sua vez, é acusado de tentativa de obstrução às investigações e de falsificação de documento particular. Então chefe da Casa Civil, ele apresentou uma fatura supostamente falsa da Precisa Medicamentos durante pronunciamento no Planalto. Já Wagner Rosário teria prevaricado em relação às suspeitas de irregularidades em negociações de vacinas pelo Ministério da Saúde.

Em nota, Flávio Bolsonaro disse que o relatório "é uma alucinação, não se sustenta e é um desrespeito com as quase 600 mil vítimas da covid que esperavam algo de útil da CPI". "Trata-se de uma peça política para agradar ao PT e para tentar desgastar o presidente Jair Bolsonaro nas eleições de 2022", destacou.

Peregrinação
Com a expectativa de aprovação do relatório, o vice-presidente da comissão, Randolfe Rodrigues (Rede-AP), afirmou que vai entregar o parecer para análise da Procuradoria-Geral da República já no dia 21. O órgão terá 30 dias para decidir se dará prosseguimento às denúncias, pedirá o arquivamento ou definirá diligências. No dia 26, membros da CPI vão se reunir com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), para protocolar um pedido de impeachment contra Bolsonaro.

Segundo Randolfe, a cúpula do colegiado quer levar o relatório a todas as instâncias, inclusive ao Tribunal Penal Internacional, em Haia, na Holanda. A Corte é responsável pelo julgamento de acusados de crimes contra a humanidade, como genocídio.
Ontem, em reunião remota, a CPI aprovou a convocação de Nelson Mussolini, membro da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec). Também serão chamados Carlos Eduardo Menezes de Rezende, representante da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS); Elton da Silva Chaves, do Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde (Conasems); e Luiz Claudio Lemos Correa, do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass). Todos serão ouvidos na segunda-feira.

Crimes atribuídos a Bolsonaro

» Epidemia com resultado morte
» Infração de medidas sanitárias
» Emprego irregular de verba pública
» Incitação ao crime
» Falsificação de documento particular
» Charlatanismo
» Prevaricação
» Genocídio de indígenas
» Crimes contra a humanidade
» Crimes de responsabilidade
» Homicídio por omissão

a em: https://www.cbdigital.com.br/correiobraziliense/16/10/2021/p2