O Globo, n. 31487, 22/10/2019. País, p. 4

A crise em reprise

Bruno Góes 
Naira Trindade
Natália Portinari


Costurado com a participação do Palácio do Planalto, o plano de um armistício na guerra do PSL não foi adiante, com a deflagração de uma nova batalha de listas para o cargo de líder do partido na Câmara. Num intervalo de seis horas, três documentos foram protocolados na Mesa Diretora. Até a noite de ontem, apenas o primeiro deles, com 28 assinaturas autenticadas, foi validado, o que levou à liderança da bancada o deputado Eduardo Bolsonaro (SP). Assim que assumiu o poder, o filho do presidente da República destituiu os 12 vice-líderes da sigla, a maioria ligada ao presidente do partido, Luciano Bivar.

O contra-ataque do grupo bivarista veio na forma da abertura de processo interno por infração disciplinar contra 19 parlamentares bolsonaristas, marcado para começar hoje. Entre os alvos está Eduardo Bolsonaro, cujo assessor recusou a intimação, e o líder do governo Vitor Hugo (GO).

Segundo o estatuto da legenda, após a notificação os acusados de infração têm prazo de cinco dias para contestação. Assim, o processo no Conselho de Ética do PSL não deve ser decidido nesta semana. As penalidades vão de advertência à expulsão.

Para frear as eventuais punições, os deputados Carla Zambelli (SP), Alê Silva (MG), Filipe Barros (PR), Carlos Jordy (RJ) e Bibo Nunes (RS) entraram ontem com mandado de segurança preventivo no Supremo Tribunal Federal (STF). Eles querem impedir a suspensão de suas atividades parlamentares, o que poderia acarretar uma nova disputa pela liderança, uma vez que suas assinaturas deixariam de valer.

A primeira lista de ontem foi apresentada por Vitor Hugo, do grupo pró-Eduardo, com 29 assinaturas, das quais 28 receberam a autenticação, o que levou o deputado ao posto de líder do partido. Sem saber que Vitor Hugo protocolava a relação a favor de Eduardo, o até então líder da bancada, Delegado Waldir, gravou vídeo abrindo mão da liderança para um terceiro nome, conforme o acordo que vinha sendo articulado nos bastidores.

Diante da primeira lista pró-Eduardo, o grupo pró-Waldir apresentou nova relação, endossada por 28 deputados. Em seguida, os apoiadores de Eduardo protocolaram o terceiro documento do dia para mantê-lo na liderança. As duas últimas listas não foram ainda referendadas pela Mesa, e a conferência das assinaturas deve ocorrer hoje. Para o jurídico da Câmara, a liderança é definida pela relação de apoios mais recente.

Vira-casacas

Para ser líder do partido, é necessário ter maioria, o que, no PSL, com bancada de 53 deputados, significa 27 assinaturas. Parlamentares podem assinar mais de uma lista, como já ocorreu na semana passada, quando a primeira guerra de documentos teve início, sem que o Delegado Waldir tenha sido retirado.

Entre os vice-líderes destituídos por Eduardo está Joice Hasselmann (SP), com quem ele trava uma rivalidade pessoal. Os partidos podem indicar um vice-líder para cada quatro deputados. Os cargos na vice liderança, mais simbólicos que de função prática, são de livre nomeação do líder. Ele pode autorizar os ocupantes a substitui-lo em reuniões.

Anoveladas listas para a liderança parece ainda longe de acabar, já que muitos deputados têm saltado de um lado para outro. Ontem, a ala bolsonarista afirmou que Eneias Reis (MG), Marcelo Brum (RS), Daniel Freitas (SC) e Leo Motta (MG) entregaram ofício à Câmara para que suas assinaturas na relação pró-Waldir não tenham mais validade. Alista de apoio a Eduardo Bolsonaro também teve baixas. O deputado Professor Joziel (RJ) e Loester Trutis (MS) passaram a endossar Waldir.

O grupo ligado a Bivar atribui a continuidade da disputa à quebra do acordo por um terceiro nome para líder. Segundo Júnior Bozzella (PSL-SP), o ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, ligou para Bivar propondo um apacificação que não passasse por Eduardo nemWald ir, oque foi frustrado coma primeira lista em favor do filho do presidente. O ministro confirma que trato uda liderança com Bivar, mas nega o acordo.