O Globo, n. 31487, 22/10/2019. País, p. 6
Kátia contraria PDT e diz que vai votar pela reforma da Previdência
Camila Zarur
Apesar da ameaça de retaliação de seu partido, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO) afirmou ontem que vai manter seu voto a favor da reforma da Previdência no segundo turno do Senado, previsto para hoje. Embora o presidente do PDT, Carlos Lupi, tenha avisado que entraria com um processo contra a senadora na omissão de ética do partido caso ela mantivesse a posição, a parlamentar disse não temer a reação da legenda.
— Tudo que faço é de acordo com meus princípios e convicções, eu não tenho medo. Tenho medo é de trair os meus princípios e a minha consciência. Agora, o que o partido vai fazer, qual vai ser a reação, é um direito dele — afirmou a senadora ao Globo.
Vice de Ciro Gomes
No início do mês, a posição favorável de Kátia à proposta pegou de surpresa colegas de partido. Ela foi a única dos quatro representantes do PDT no Senado a votar “sim” na proposta de mudanças de aposentadoria do governo Bolsonaro, contrariando a orientação da sigla.
A senadora disse que a reforma é importante para o país e que seu posicionamento segue o que foi proposto na campanha do ano passado, quando concorreu como vice na chapa de Ciro Gomes à Presidência da República:
— A minha convicção foi a mesma da minha campanha. Nós trabalhamos e lutamos muito durante toda a campanha do Ciro Gomes expondo a nossa proposta de reforma da Previdência, pela importância dela.
Durante a votação da proposta na Câmara, Ciro chamou a proposta de “elitista” e defendeu a expulsão dos oito deputados federais do PDT, incluindo Tabata Amaral (SP), que votaram contra a orientação do partido e apoiaram a reforma. Kátia não quis comentar o posicionamento do ex-colega de chapa.
— Essa é a posição dele, eu respeito —disse.
Um dia depois da votação do primeiro turno no Senado, Tabata parabenizou Kátia por não “se deixar levar pela lógica eleitoreira e pela polarização cega”. A deputada está suspensa das atividades partidárias desde a abertura do processo, em julho, e anunciou que deixará o PDT. Tabata disse que ela e mais três colegas de sigla — Flávio Nogueira (PI), Gil Cutrim (MA) e Marlon Santos (RS) — vão entrar com uma ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para deixar a legenda sem perder o mandato.
A legislação determina que o mandato fique com o partido caso o parlamentar deixe a legenda fora da janela temporária, mas prevê exceções, como por exemplo perseguição política. Tábata alega que se tornou alvo do partido desde que votou a favor da reforma da Previdência.