O Globo, n. 31487, 22/10/2019. País, p. 6

PF mira relator da CPI dos fundos de pensão

Bela Megale
Daniel Biasetto


A Polícia Federal (PF) deflagrou ontem a Operação Grand Bazaar para desarticular um esquema criminoso de pagamentos de propina por pessoas envolvidas em fraudes a fundos de pensão. Um dos alvos foi o deputado federal Sergio Souza (MDB-PR). Ele foi relator da CPI dos Fundos de Pensão.

No total, foram cumpridos 18 mandados de busca e apreensão em Curitiba, São Paulo, Rio e Brasília contra outros supostos beneficiários dos recursos, operadores financeiros e empresários que teriam pago vantagens indevidas ao deputado em troca de proteção na CPI.

Foram efetuadas buscas contra o lobista Milton Lyra, apontado como operador do MDB, e o advogado Marcos Joaquim, que defendeu o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) (detalhes abaixo). A delação do doleiro Lúcio Bolonha Funaro foi a base da operação autorizada pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Na sua decisão, Celso de Mello diz que há “relevantes indícios” apontando que Souza teria recebido pelo menos R$ 3,2 milhões para evitar a convocação e indiciamento de ex-presidentes de fundos de pensão, como Wagner Pinheiro, que esteve à frente do Petros, e de Antônio Carlos Conquista, que comandou o Postalis, na CPI.

Celso de Mello também destaca indícios de que o parlamentar tenha cometido o crime de lavagem de dinheiro por meio de operações de dólar-cabo, emissão de notas frias e empresas de fachada.

Segundo a delação de Funaro, o advogado Marcos Joaquim teria recebido vantagens indevidas para atuar na mesma articulação, interferindo nas convocações e no relatório final da comissão.

Souza disse que “foi tomado de surpresa” e que está “tranquilo”, à disposição da Justiça. Ele defendeu sua atuação na CPI e afirmou que o resultado de seu trabalho levou a diversas ações da PF.

Em nota, Marcos Joaquim disse que está à disposição das autoridades e negou ter participado de reunião citada por Funaro.