Título: Dom Eugenio reza missa
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Fonte: Jornal do Brasil, 13/04/2005, Internacional, p. A7
A Basílica de São Pedro ficou pequena para receber as centenas de fiéis que prestigiaram a quinta missa solene em memória de João Paulo II, presidida pelo cardeal brasileiro Eugênio de Araújo Sales. O arcebispo emérito do Rio de Janeiro, de 84 anos, celebrou a quinta missa do novenário para o papa diante de mais de 100 cardeais, que participam do pré-conclave em Roma.
- João Paulo II está celebrando esta mesma liturgia com todos os santos na gloriosa presença da Virgem Maria - assegurou o cardeal em sua homilia, falando em italiano impecável. Foi o primeiro cardeal latino-americano a celebrar uma missa pelo papa no Vaticano, depois do funeral.
Entre as centenas de pessoas presentes estavam as monjas polonesas que cuidaram de João Paulo II e seu secretário pessoal, monsenhor Stanislaw Dziswisz. Havia, ainda, muitos brasileiros.
- Atrasei meu retorno para assistir à missa de Dom Eugênio. É importante que o povo brasileiro também esteja representado no Vaticano - afirmou María Elisabete Bandeira, de Salvador, de férias na capital italiana. Muitos manifestaram o desejo de que o próximo Papa, que será escolhido no Conclave que começa segunda-feira, seja ''brasileiro ou latino-americano''.
- Em meio a esta procissão de cardeais está nosso futuro papa - afirmava Marcelo Gomes, um seminarista de São Paulo que estuda em Roma.
Depois da missa, os cardeais e as pessoas próximas a João Paulo II desceram à cripta para alguns minutos de oração. Uma das religiosas depositou uma vela na laje que cobre o túmulo. A partir de hoje o público poderá visitar o local.
Ontem os cardeais se reuniram no Vaticano na oitava congregação, na qual debateram a situação geral da Igreja no mundo e foram informados pelo cardeal camerlengo, o espanhol Eduardo Martínez Somalo, que já está lacrado o apartamento papal, que só voltará a ser aberto pelo novo pontífice.
Os cardeais examinaram também as despesas deste período de Sé Vacante, ou seja sem papa. Depararam-se com uma perspectiva difícil, segundo a apresentação do chefe do escritório de assuntos econômicos da Santa Sé, cardeal Sergio Sebastiani. O cardeal citou dificuldades na recuperação econômica da Europa, um clima desfavorável para investimentos e a subida do euro em relação ao dólar.
- Nosso relatório pode não ajudar, mas é um reflexo de toda essa situação - afirmou Sebatiani.
A avaliação é corroborada por analistas financeiros que conhecem as dificuldades da Santa Sé, cuja saúde financeira foi tratada como ''mito'' por João Paulo II.
- O dólar desvalorizado realmente os atingiu em cheio - afirma o reverendo americano Thomas Reese. - Não estamos falando apenas de dinheiro vindo dos Estados Unidos. Todos os ricos no Terceiro Mundo ajudam a Igreja em dólares - completou.