Título: Vaticano se prepara para evitar grampos
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 13/04/2005, Internacional, p. A7

Conclave terá medidas eletrônicas contra hackers

AFP Na Capela Sistina, operários já iniciaram a montagem dos móveis onde os cardeais ficarão no Conclave

VATICANO - A espionagem se tornou muito mais sofisticada desde a eleição de João Paulo II em 1978, mas o Vaticano, em 2005, parece confiante de que poderá proteger a tradição de sigilo que deve cercar o Conclave que definirá o novo papa, a ser iniciado na segunda-feira. O desafio é barrar a ameaça representada por hackers de computador, dos grampos eletrônicos e do uso de microfones ultrasensíveis

Os responsáveis pela segurança do Vaticano não discutem os detalhes do que está sendo preparado, mas sabe-se que todos os tapetes da Capela Sistina serão vistoriados, bem como os forros das cadeiras, almofadas e outros objetos onde possam estar escondidos mecanismos de captação de som.

Segundo Giuseppe Mazzullo, ex-policial de Roma que trabalhou com a Cúria Romana no passado, a Santa Sé já pediu reforços e, além dos próprios quadros, contará com experts da polícia italiana e de empresas de investigação especialisadas em grampos.

- A segurança será muito restrita - diz Mazzullo. - Para alguém conseguir roubar informação será muito difícil, quase impossível - completa.

Centenas de repórteres de todo o mundo estarão acompanhando o Conclave. Além disso, a reunião também deverá ser espionada por hackers e por informantes dos serviços de Inteligência de vários países. Qualquer vazamento sobre os procedimentos trará grande embaraço ao Vaticano.

Por exemplo, discussões delicadas sobre qual deverá ser a posição do papa nas relações com muçulmanos ou judeus, um eventual reconhecimento da China em detrimento de Taiwan, ou ainda visões sobre métodos de contracepção poderiam ser repassados pelos governos e pela própria mídia, interferindo na discussão.

Em 1996, João Paulo II criou regras para proteger os cardeais da ''ameaças à independência de julgamento''. Celulares, agendas eletrônicas, rádios, jornais, tevês e gravadores foram banidos dos conclaves. No caso dos celulares e das agendas (hoje pequenos computadores de mão), os equipamentos podem sofrer ataque de hackers que os transformariam em transmissores de áudio para uma escuta.

- Um desses hackers pode entrar nesses aparelhos e ligar o microfone sem que o dono o faça - afirma um especialista britânico em detecção.

A ameaça inclui, também, a possibilidade de uso de captadores instalados nos telhados, com microfones sensíveis a laser que podem capturar conversas a quase 500m de distância. Nesse caso, o equipamento grava vibrações provocadas pela voz em superfícies duras, como o vidro. A Capela Sistina tem janelas perto do teto. Para evitá-los, segundo os especialitas, recomenda-se o uso de cortinas pesadas. Além disso, quanto mais conversas ao mesmo tempo menor é a precisão.

Para lidar com isso, as equipes que atuaram em 1996 montaram uma operação de varredura. Além dos móveis, foram vistoriados dutos de ar condicionado e todas as instalações elétricas, bocais de lâmpadas e canos de água. O mesmo procedimento está sendo repetido agora, com mais acurácia, combinado com a imposição da Lei do Silêncio.

- Eles garantem que há como bloquear todas as comunicações - afirmou o cardeal americano Francis George.

Ainda assim, a possibilidade de um espião dentro do Vaticano é a maior ameaça ao sigilo da sucessão do papa.

- Será que todos os cardeais serão revistados para se ter certeza de que ninguém instalou grampos em seus crucifixos? - indaga Giles Ebbut, especialista da consultoria Jane's .