O Globo, n. 31487, 22/10/2019. País, p. 7

Dallagnol fecha porta para promoção e fica na Lava-Jato

Thiago Herdy


Coordenador da força-tarefa da Lava-Jato em Curitiba, o procurador Deltan Dallagnol decidiu não concorrer à promoção a uma vaga de procurador regional da República, responsável pela atuação na segunda instância da Justiça Federal. Ele apresentou ontem uma carta ao Conselho Superior do Ministério Público Federal (CSMPF) na qual recusa a hipótese de promoção para poder continuar à frente da coordenação da força-tarefa, função que exerce há cinco anos.

Se não tivesse apresentado a carta, o procurador estaria apto a ser escolhido para umas das dez vagas em aberto e poderia ser obrigado a deixar a força-tarefa no Paraná. Nove vagas são para atuar em Brasília e uma em Porto Alegre. A escolha de nomes se dá por critérios de merecimento e antiguidade, analisados em reunião do CSMPF. Há uma reunião do colegiado marcada para o próximo dia 5 de novembro.

Dallagnol tinha até ontem para apresentar uma recusa à promoção. No MPF desde 2003, ele integra o grupo que reúne um quinto dos procuradores mais antigos na carreira e que estão aptos a promoções por merecimento.

Atualmente, Dallagnol ocupa a coordenação na condição de procurador natural de processos motivados por investigações originárias em Curitiba. Nos últimos anos, procuradores regionais foram cedidos à força-tarefa, mas sempre mediante autorização do Procurador-Geral da República (PGR).

“A decisão foi tomada após conversar com os demais procuradores da força-tarefa e tomou em conta aspectos pessoais e profissionais”, informou Dallagnol em nota divulgada por sua assessoria.

Saída honrosa

Procuradores próximos ao chefe da Lava-Jato vinham defendendo sua promoção como estratégia para tentar reduzir a pressão por sua saída do posto, em função do vazamento de suas mensagens particulares trocadas com diversos interlocutores por meio do aplicativo Telegram.

O procurador resistia à ideia, por entender que o teor das mensagens não compromete o trabalho à frente do grupo anticorrupção. Desde que os diálogos começaram a ser divulgados, a força-tarefa tem defendido publicamente que seus membros foram vítimas de “ação criminosa de um hacker” e reforçado que a atuação dos procuradores foi legal, técnica e impessoal.

Dallagnol é alvo de nove reclamações no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Nenhum dos procedimentos tem relação com as mensagens privadas que foram tornadas públicas, mas com manifestações públicas do procurador sobre temas relacionados ao combate à corrupção.

O Conselho Superior do MPF é presidido pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, que, nos últimos meses, foi crítico ao que classificou de “personalismo” na atuação de procuradores em ações de combate à corrupção, citando o exemplo da Lava-Jato.