O Globo, n.31.584, 27/01/2020. País. p.05
Espólio de Bolsonaro é disputado em São Paulo
Amorim Silvia
A falta de um candidato do presidente Jair Bolsonaro na eleição municipal de São Paulo está levando a uma pulverização de pretendentes a prefeito no campo conservador da capital paulista. Eles estão de olho no espólio eleitoral de Bolsonaro — o partido do presidente, o Aliança pelo Brasil, não deverá lançar candidatos. Três milhões de eleitores (44%) votaram no presidente no primeiro turno na cidade e agora, dois anos depois, passam a ser alvo da cobiça de candidaturas de direita.
Já são quatro os nomes desse campo político que se colocaram na disputa para prefeito: a deputada Joice Hasselmann (PSL), o ex-secretário municipal Filipe Sabará (Novo), o deputado Marco Feliciano (sem partido) e o deputado estadual Arthur do Val, Mamãe Falei (sem partido).
Os dois últimos surgiram no cenário eleitoral paulistano depois do rompimento de Bolsonaro com o PSL. O apresentador José Luiz Datena (sem partido) é uma possibilidade sempre lembrada por ter a simpatia da família Bolsonaro, mas, até o momento, ele não se apresentou como possível candidato.
A eleição municipal deste ano será a primeira após a onda conservadora que varreu as urnas nas disputas presidenciais e estaduais de 2018 e resgatou o protagonismo do eleitorado de direita.
PÓS-MALUFISMO
Em São Paulo, essa força política estava em declínio desde os anos 1990, com o fim do malufismo. Agora, o espólio eleitoral de Bolsonaro reacendeu o ímpeto de candidaturas conservadoras.
Embora representante do conservadorismo, a maioria dos pré-candidatos de direita em São Paulo não se coloca como aliado de Bolsonaro. Joice, por exemplo, rompeu politicamente como presidente e faz a linha da candidata que busca atrair o eleitor conservador e frustrado com o presidente. Apesar de já ter dito que será candidata a prefeita, ela tem ainda um futuro incerto na disputa. No fim do ano passado, a deputada engatou conversas com o DEM sobre uma filiação e também pode vira ser candidata a vi cedo prefeito Bruno Covas (PSDB).
Candidato a prefeito lançado pelo Movimento Brasil Livre (MBL), Arthur do Val segue a mesma cartilha de Joice, defendendo valores de direita e criticando ações de Bolsonaro. Ele, assim como Marco Feliciano, está sem partido e precisa encontrar uma legenda até o fim de março caso queira se candidatar.
Feliciano estava filiado ao Podemos, mas foi expulso depois de ter dito que estava à disposição de Bolsonaro para sair candidato a prefeito de São Paulo .“São Paulo é o estado mais conservador da nação. Sua capital é a maior cidade do Brasil. Nas eleições, precisa ter um candidato verdadeiramente conservador, inclusive para defender o legado do presidente Jair Bolsonaro. Eu me coloco à disposição do presidente eme candidato !”, publicou o deputadonas redes sociais no mês passado. Único que não é parlamentar desse grupo, Filipe Sabará acena para o eleitorado conservador pelo viés das pautas econômica e da segurança.
—Apolítica econômica e as iniciativas na segurança pública do governo Bolsonaro batem muito com o que eu penso. Acreditamos no Estado mínimo ena liberação do porte de armas —afirmou Sabará, que foi secretário de Assistência Social na gestão João Doria (PSDB) na prefeitura.
Candidato à reeleição, Bruno Covas torce pela fragmentação de candidaturas nos campos conservado rede esquerda.O prefeitos e apresenta como um candidato moderado e de centro e, segundo cálculos de seus aliados, quanto mais candidaturas houverà direita e à esquerda, mais chances de vitória teria o tucano. O objetivo do prefeito és era única opção eleitoral de centro em 2020. Hoje outro candidato, Andrea Matarazzo (PSD), disputa com Covas esse flanco do eleitorado.
POUCA INFLUÊNCIA
Nos últimos 30 anos, o resultado das eleições municipais de São Paulo mostrou que os presidentes da República tiveram pouca influência sobre o voto dos paulistanos. Desde a redemocratização, somente a então presidente Dilma Rousseff conseguiu eleger seu candidato a prefeito na capital paulista, Fernando Haddad (PT).
Os demais, de José Sarney a Michel Temer, falharam nessa tarefa. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso perdeu com os candidatos José Serra e Geraldo Alckmin. Seu sucessor, Luiz Inácio Lula da Silva, também teve duas derrotas na capital coma então candidata a prefeita Marta Suplicy.
O peso de um apoio de Bolsonaro nas eleições municipais é uma incógnita. O presidente disse há duas semanas que não pretende se envolver em candidaturas, se seu novo partido não participar da disputa. São consideradas mínimas as chances de Bolsonaro registrar o Aliança pelo Brasil na Justiça Eleitoral até o prazo das eleições de 2020. A legenda está em fase de coleta de assinaturas de apoiadores para sua fundação.
No segundo turno das eleições de 2018, Bolsonaro teve 60% dos votos válidos na capital paulista.