O Globo, n.31.584, 27/01/2020. País. p.06

Nem Lula, nem Bolsonaro na eleição em Salvador

Henrique Gomes Batista

 

Esquerda e direita concordam em um ponto na eleição de Salvador: pela primeira vez, em quase duas décadas, a figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva não será protagonista para o eleitor na hora de votar, em outubro, pela prefeitura do quarto maior colégio eleitoral em disputa neste ano —com 1,8 milhão de eleitores, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em seu lugar, o grande cabo eleitoral será o bem avaliado governador da Bahia, Rui Costa, também do PT.

No campo da direita, por sua vez, candidatos fogem do presidente Jair Bolsonaro, rejeitado por mais de 70% dos soteropolitanos, segundo pesquisas. O influenciador desse campo é ACM Neto, prefeito em fim de mandato que tem mais de 75% de aprovação.

—Esta será a primeira eleição em que o governador e o prefeito terão mais influência que o ex-presidente Lula. Pelas nossas pesquisas, as opiniões de Costa e Neto serão importantes para cerca de 70% da população — diz Éden Valadares, presidente do PT da Bahia.

Mesmo sem apadrinhamento na esfera nacional, a disputa tende a ser polarizada, com ambos os lados apelando para as bem avaliadas gestões do prefeito e do governador, mas com estratégias distintas.

O cientista político Joviniano Neto afirma que, para ACM Neto, a vitória de seu indicado, o vice prefeito e secretário de infraestrutura Bruno Reis (DEM), é fundamental para a carreira política do presidente nacional do DEM. Se perder em casa, após oito anos de gestão e com alta aprovação, vai ser

“uma tragédia” para seus planos, que passam por governar a Bahia a partir da eleição de 2022 e aumentar o peso de seu partido no cenário nacional.

—Conseguimos fazer, já na largada, uma aliança importante com 12 partidos e tivemos avanço na gestão. Vai ser muito difícil surgir um nome que contraste, que confronte tudo o que foi feito nestes sete anos —afirmou ao GLOBO ACM Neto.

O PT ainda não tem candidato definido. Disputam a indicação a secretária estadual Fabya Reis, a socióloga Vilma Reis, o deputado estadual Robinson Almeida e o ex-ministro da Cultura Juca Ferreira. O nome do deputado federal Nelson Pellegrino também é lembrado, mas ele tem dito que não entraria na disputa.

Bem avaliada e considerada uma líder carismática, a deputada estadual Olivia Santana, pré-candidata do PCdoB, luta para receber o apoio do grupo de Rui Costa. Olivia, porém, diz que não abre mão de ser cabeça de chapa e pode ir sozinha para a disputa. Já o PT indicou que deseja ter candidatura própria, em meio à falta de clareza na estratégia do governador, que está de licença médica.

—A campanha precisa ter foco na cidade, pensar o futuro de Salvador, com um novo padrão de desenvolvimento econômico e social com inclusão — afirmou Olivia.

MAIS CANDIDATURAS

Ainda na base de Rui Costa, há outras duas pré-candidaturas, ambas de deputados federais: a de Lídice da Mata (PSB), que já foi prefeita da capital baiana e senadora, e de Pastor Sargento Isidório (Avante).

Isidório, que teve o recorde de votação para deputado federal na Bahia em 2018, com 323 mil votos, se apresenta como “ex-gay” e atual pastor. Conhecido também por obras sociais em Salvador, ele aparece no topo das pesquisas eleitorais, junto com Bruno Reis e à frente de Olivia Santana.

Outros partidos da base do governador, como o PSD e o Podemos, também lançaram pré-candidatos.

—No fim, devemos ter uma candidatura do prefeito, de duas a três no campo do governador e alguns partidos pequenos, que podem não ter chances, mas podem ser cruciais para a disputa chegar ao segundo turno —avalia Joviniano Neto.