Título: Lista de crimes dos PMs aumenta
Autor: Marcelo Gazzaneo
Fonte: Jornal do Brasil, 13/04/2005, Rio, p. A13

Além da acusação de participação em chacina, policiais são suspeitos de ligação com quadrilhas de seqüestro em estradas

A ação dos dez policiais presos sob a suspeita de terem executado 29 pessoas na Baixada Fluminense, no dia 31 passado, pode ir além da formação de um grupo de extermínio na região. Ontem a Delegacia de Homicídios da Baixada (DHB), responsável pela apuração da chacina, começou a investigar a denúncia de que os mesmos PMs estariam envolvidos em seqüestro e extorsão a motoristas de caminhão. Na noite de segunda-feira, mais dois PMs tiveram a prisão temporária decretada. Se for confirmada, a tese pode estabelecer conexão com quadrilhas de assaltos a estradas recentemente desbaratadas por ações das polícias Federal e Civil. Segundo a denúncia que chegou à DHB, uma casa às margens da Via Dutra, em Queimados, vizinha à residência do soldado Ivonei de Souza, acusado de participar da chacina, seria usada como cativeiro dos caminhoneiros vítimas de extorsão. A casa fica a menos de 100 metros do local onde dois informantes da polícia foram assassinados. Eles ajudavam nas investigações do caso do desaparecimento da joalheira Mara Valéria Bittencourt Moreira e de seu filho, Enil Fagundes Neto. A família de Mara Valéria chegou a reconhecer jóias de fabricação dela encontradas na casa do principal acusado do desaparecimento de Mara (mulher do ex-vereador José Rechuem, de Mesquita), o cabo PM Carlos Jorge de Carvalho, preso por suspeita de envolvimento na chacina do dia 31.

Na busca realizada na casa, os policiais encontraram um Gol roubado, que pode ter sido usado pelos PMs na chacina, um carregador de pistola, um par de algemas, um canivete, um colete camuflado, uma touca, uma camisa preta e um negativo de filme.

- É mais uma suspeita que vamos investigar. A prática rotineira desse grupo era a de homicídio - afirmou o delegado titular da DHB, Rômulo Vieira.

A casa, de acordo com a denúncia, também seria usado como local de reuniões do grupo. A polícia também investiga a informação de que a casa, pertencente a essa mulher, estaria alugada por um policial militar reformado. Segundo vizinhos, o local era frequentado mais aos finais de semana, onde os moradores costumavam fazer churrascos.

- O que encontramos na casa já forma um kit - ressaltou Rômulo Vieira, referindo-se ao carregador de pistola, à touca e ao colete camuflado, que costumam ser usados por bandidos em ações como falsas blitz e seqüestros.

Apesar de a denúncia não revelar detalhes, policiais acreditam que a ação do grupo era a de rotina: os caminhoneiros eram parados na Via Dutra, levados para a casa e lá permaneciam até o pagamento do resgate.

O delegado não quis relacionar, em princípio, o fato de a casa ser próximo ao local das execuções dos dois informantes do caso de Mara Valéria Bittencourt. Segundo informações de policiais, os dois informantes foram mortos a tiros depois de terem sido atraídos para uma emboscada.