Título: Petrobras desiste da compra da P-53
Autor: Sabrina Lorenzi
Fonte: Jornal do Brasil, 13/04/2005, Economia & Negócios, p. A17
Estatal decidiu arrendar plataforma que vai operar na Bacia de Campos a partir de 2008
A Petrobras desistiu de encomendar a construção da P-53 e anunciou que vai alugar a unidade para produzir petróleo no campo de Marlim Leste, na Bacia de Campos. O afretamento será realizado pelo ABN AMRO Real, que venceu concorrência junto a outras cinco empresas pelo contrato da unidade, por cerca de dez anos, estimado em US$ 550 milhões.
A licitação para erguer a P-53 foi interrompida por uma briga judicial entre a petroleira estatal e a Marítima. Excluída da concorrência, a companhia, do empresário German Efromovich, questionou na Justiça o direito de entrar na licitação. Conseguiu, mas foi novamente derrotada pela Petrobras, que a desclassificou do processo. A Justiça interveio novamente. Diante da pendência, a Petrobras abriu mão da compra e decidiu alugar a plataforma, um drible na Marítima.
A P-53 deverá entrar em operação no início de 2008, no campo gigante de Marlim Leste. Sua capacidade é de 180 mil barris de petróleo e seis milhões de metros cúbicos de gás natural por dia.
Na semana passada, a Petrobras informou o afretamento da plataforma SSP300, para produzir petróleo leve em Sergipe já a partir do próximo ano. O contrato foi fechado com Sevan Marine Production ASA, destinado ao campo de Piranema, a 37 quilômetros da cidade de Aracaju.
O aluguel das duas unidades permite à estatal fugir dos amargos preços dos insumos, que dispararam nos últimos meses com a alta do aço no mercado internacional. A estratégia oficial, porém, está na pressa para aumentar a produção e atingir a auto-suficiência em petróleo ainda neste ano. Em março, a estatal elevou a produção em 4,1%, com 1,57 milhão de barris diários de petróleo. Em abril, foram contabilizados sucessivos recordes de produção, com a marca de 1,7 milhão de barris.
Apesar do apelo para a construção no Brasil, as duas plataformas têm em comum a origem estrangeira. A P-53 virá de Cingapura, enquanto a SSP300 está sendo construída na China, no estaleiro de Yantai Raffles. A Petrobras diz que o conteúdo mínimo nacional exigido na P-53 será o mesmo nas demais unidades, da ordem de 65%. A conversão do navio Settebello e a construção do sistema turret, fornecido pela SBM, será realizada pelo estaleiro Keppel Shipyard, em Cingapura.
Já a construção ''das facilidades de produção'' e integração da plataforma serão executadas pelo Consórcio Marlim Leste - CML, composto pelas empresas Queiroz Galvão, Ultratec e Iesa, no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul; construção dos módulos de geração de energia, pela Rolls Royce, no Rio e dos módulos de compressão de gás, pela Dresser, também no Rio, além de outros contratos complementares.
''Apesar de tratar-se de afretamento, a Petrobras exigiu que a indústria nacional, sempre dentro do princípio da competitividade que norteia seus próprios processos, fosse contemplada na construção da unidade. Para os módulos de geração e compressão, o conteúdo local, a exemplo dos projetos anteriores, será de 75%, à exceção das grandes máquinas que não são fabricadas no país'', disse a Petrobras em nota à imprensa.
Questionada por não dar continuidade à política industrial do governo, a estatal rebate, informando que quase todos os cascos de plataformas são construídos mesmo no exterior. A exceção é a P-51, que contou com isenção de impostos devido a um acordo com o governo fluminense.