Título: CPI da Educação ouve acusações a Eurides
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 13/04/2005, Brasília, p. D3

Ex-presidente de Comissão de Licitação diz que houve favorecimento a empresa

A CPI da Educação na Câmara Legislativa ouviu ontem, no auditório da Casa, o ex-presidente da Comissão Permanente de Licitação (CPL) da Secretaria de Educação Achilles de Santana e o funcionário que atualmente está no cargo, Diego Soria Rodrigues Júnior. Primeiro a depor, Achilles acusou as ex-secretárias Eurides Brito e Maristela Neves de favorecer participantes ao direcionar licitações de transporte escolar na secretaria. O servidor aposentado do GDF afirmou que durante um processo licitatório em 1999, Eurides chegou a lhe apresentar o suposto favorecido em seu gabinete - o empresário Nelson Laval, da empresa de transportes Juiz de Fora. Segundo Achilles, em 2003 Eurides não era mais a titular da pasta, mas continuava influenciando nos atos da secretaria. Ao saber que as empresas Esave e Moura estavam habilitadas para a licitação, ele teria sido convidado para um almoço com a distrital no qual ela questionou se não haveria uma maneira de reverter a participação da Esave na licitação.

- Ela me disse que o senador Valmir Amaral [dono da Esave]não havia ajudado nem a ela nem ao governador na última campanha - afirmou Achilles.

Ele e Diego foram convocados para esclarecer aos integrantes da CPI, dentre eles a própria Eurides, sobre a suspeita levantada pela Esave sobre a troca de cargos ocorrida na CPL em meio à licitação. Assim que Achilles deixou o cargo, a Esave foi desabilitada a participar do processo, restando apenas a Moura transportes no páreo, que ganhou o serviço orçado em R$ 10 milhões.

- Tenho certeza que fui afastado porque mantive a habilitação - afirmou Achilles, em um depoimento que durou quatro horas, e foi marcado por uma verdadeira troca de farpas entre o depoente e a distrital.

Em nota divulgada ontem, a secretaria afirma que o então presidente da CPL foi afastado do cargo por ''descumprir princípios administrativos''. Ele teria tirado férias simultaneamente com outros três servidores da comissão, composta por cinco membros. E, por lei, o quorum mínimo é de três pessoas.

Eurides Brito rebateu todas as acusações. Disse que não houve almoço entre ela e o ex-presidente da CPL - cujas relações de ''intimidades'' foram rechaçadas - e garantiu que só veio saber por estes dias que a empresa desfavorecida na licitação era de propriedade de Valmir Amaral.

- Recebi cartas anônimas revelando que era ele [Aquilles]quem tinha interesse em favorecer a Esave. Como não conseguiu, logo saiu de férias - disse a deputada.

Para ela, existe um complô entre o funcionário exonerado e o distrital José Edmar (Prona), seu desafeto declarado. Edmar teria dito durante uma reunião da bancada do PMDB no início do ano que se dedicaria ''para destruí-la'', por acreditar que a ex-colega de legenda teria comandado o processo que resultou na sua prisão, em 2003. Eurides reiterou que, conterrâneas, as famílias do distrital e de Achilles são proprietárias de fazendas vizinhas em Arraias (TO). Além disso, um primo de Edmar, Reginaldo Cordeiro, era um dos integrantes da comissão de licitação e trabalhava com o servidor exonerado.

- O Reginaldo trabalhou a vida inteira com a Eurides até por conta da esposa dele, que é professora. E, apesar da proximidade das fazendas, só conheci o Achilles depois que ele prestou depoimento no Ministério Públlico - afirmou Edmar.

Até 22h30, o depoimento de Diego Soria ainda não tinha sido concluído.