O Globo, n. 31489, 24/10/2019. País, p. 7

CPI das Fake News convida Joice e Waldir

Amanda Almeida


Em sua estreia na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Fake News, o líder do PSL na Câmara, Eduardo Bolsonaro (SP), assistiu ontem a mais uma derrota do governo Jair Bolsonaro no colegiado. A oposição conseguiu aprovar 66 requerimentos, entre eles convites aos deputados Delegado Waldir (PSL-GO) e Joice Hasselmann (PSLSP) e a integrantes do governo. Junto a aliados, porém, Eduardo conseguiu impor um revés ao PT: a presidente do partido, deputada Gleisi Hoffmann (PR), acabou convocada à CPI.

Após o racha no PSL, Waldir e Joice começaram a atirar contra o grupo de Jair Bolsonaro. Em uma conversa gravada, Waldir prometeu “implodir” o presidente. Já Joice disse que os filhos de Bolsonaro — Eduardo, o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) — têm assessores que usam perfis falsos nas redes sociais. Como foram convidados, Waldir e Joice não são obrigados a comparecer.

A CPI convocou outros nomes que podem gerar desconforto ao governo, como o secretário de Assuntos Internacionais, Filipe Martins, e o secretário de Comunicação da Presidência, Fábio Wajngarten. Também foram convocados blogueiros bolsonaristas, como Allan dos Santos, o empresário Luciano Hang e Paulo Marinho, que é suplente de Flávio Bolsonaro. Todos são obrigados a comparecer quando os depoimentos forem marcados.

Os aliados do presidente Bolsonaro na CPI tentaram votar 96 requerimentos em bloco. Com isso, além de apreciar seus pedidos, a oposição seria obrigada a votar, no mesmo pacote, itens pedidos por parlamentares do governo, como a convocação da ex-presidente Dilma Rousseff e outras pessoas ligadas ao PT. A tentativa, no entanto, fracassou.

— Querem usar a convocação do Carlos como moeda de troca. Mas convocá-lo ou não, é indiferente para mim. Se ele vier, vai falar muitas verdades —disse Eduardo.

Um requerimento para ouvir Carlos foi apresentado ontem pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), mas não estava na pauta da CPI. Deve ser votado nas próximas semanas.

“Milícias digitais”

Apesar da vitória, o PT não conseguiu evitar a convocação de Gleisi. Depois de aprovar o bloco com os requerimentos de interesse da oposição, a CPI passou a analisar cada um dos itens de parlamentares aliados a Bolsonaro separadamente. O primeiro, apresentado pela deputada Caroline de Toni (PSL-SC), foi a convocação da presidente do PT.

Em outra frente, a bancada do PSOL na Câmara pediu ontem à Procuradoria Geral da República (PGR) para investigar o suposto uso de milícias digitais. A representação pede que sejam ouvidos depoimentos de Joice, Waldir e de Alexandre Frota (PSDB-SP), que foi do partido do presidente, para apurar possíveis irregularidades. A sigla pede que os membros políticos da família Bolsonaro sejam investigados por supostos crimes de improbidade, prevaricação, prática de advocacia administrativa e crime de responsabilidade. (Colaborou Naira Trindade)