O Globo, n. 31614, 26/02/2020. País, p. 8

Ceará registra ao menos 82 mortes no carnaval



Mesmo com o reforço de tropas federais, o Ceará registrou ao menos 82 assassinatos durante o carnaval, entre sábado e segunda-feira. De acordo a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do estado, os chamados crimes violentos letais intencionais (CVLIs), que englobam os casos como homicídio doloso, feminicídio, lesão corporal seguida de morte e latrocínio, chegaram a 170 desde o início do motim de parte dos policiais militares.

De acordo com o site G1, ocorreram 37% mais assassinatos durante o motim deste ano do que na paralisação de 2012, que durou sete dias — um a menos do que já é registrado em 2020 — e na qual foram contabilizadas 124 mortes violentas.

Apenas na última segunda-feira foram registradas 23 mortes. Entre elas, a de um homem que foi alvejado enquanto andava de bicicleta no Bairro Paupina, em Fortaleza. Ele estava acompanhado de outro homem, que foi levado ao hospital gravemente ferido. Os dois estavam na mesma bicicleta, quando ocupantes de um carro se aproximaram e fizeram os disparos.

No domingo, o estado contabilizou 25 crimes. Um dia antes, 34. O amotinamento de parte dos policiais militares começou na terça-feira à noite, dia em que cinco assassinatos foram registrados. As estatísticas apontam que a violência aumentou diante da paralisação.

Corte no pagamento

Anteontem, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, avaliou que não há “situação de absoluta desordem” nas ruas cearenses. Por sua vez, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, informou que o governo federal enviou 2,6 mil agentes de segurança ao estado. Entre os municípios que receberam o reforço estão Crato e Juazeiro do Norte, na Região do Cariri, Sul do estado. As tropas devem permanecer nos municípios até sexta-feira, conforme determinado pela Garantia da Lei e da Ordem (GLO) do último dia 20 de fevereiro, cuja operação foi decretada na semana passada pelo presidente Jair Bolsonaro.

Balanço da Secretaria de Segurança informa ainda que 47 policiais militares foram presos desde o início da paralisação, sendo que 43 agentes foram detidos por deserção (abandono do serviço militar), três foram presos por participação em motim e um por queimar um carro particular. Ao menos 38 se apresentaram espontaneamente no quartel da PM. Ao todo, o governo do estado já afastou 168 policiais militares por participar do motim. A medida, que durará 120 dias, foi publicada no Diário oficial do Estado de sexta-feira. Os agentes sairão da folha de pagamento a partir de fevereiro, segundo o governo.

De acordo com o G1, o governo cearense classificou também 77 policiais como “desertores” por faltar a convocação para atuar no carnaval. Na noite de quinta-feira, os policiais e bombeiros militares recusaram o acordo proposto pelo governo do estado de realizar um aumento dos R$ 3,2 mil atuais para R$ 4,5 mil, parcelado até 2022.