O Globo, n. 31490, 25/10/2019. País, p. 7

Moro: ‘Mais gente deveria ter sido presa’

Dimitrius Dantas


O ministro da Justiça, Sergio Moro, minimizou ontem as críticas de que a Operação Lava-Jato teria cometido excessos durante seu período como juiz federal. Em conversa com investidores em evento em São Paulo, Moro afirmou considerar que a operação prendeu e condenou menos do que deveria, dado o tamanho do escândalo de corrupção descoberto.
O ministro foi convidado do “Brazil Summit”, evento organizado pela revista “The Economist” com a presença de economistas, investidores e advogados.
— Erro, excesso, abuso... Quando me questionam, eu pergunto: qual foi exatamente (o abuso)? Sinceramente, não vejo nenhum. O que tem é um esquema de corrupção sistemático, com altas autoridades políticas envolvidas, ex-presidente da Câmara, ex-presidente da República. Poucos países conseguiriam fazer o que o Brasil fez. E não só em países com a mesma tradição, mas até mais avançados que nós. É muito traumático. Se for pensar no tamanho do escândalo, mais gente deveria ter sido presa e condenada —disse Moro.

Sem candidatura

O juiz tratou com bom humor o questionamento sobre suas ambições políticas após deixar o cargo de juiz federal. Moro negou veementemente que planeje ser candidato a presidente da República em 2022, para a sucessão do presidente Jair Bolsonaro.
— Não serei candidato. Vou morrer e colocar no túmulo: “não foi candidato” —brincou.
Moro afirmou que decidiu deixar a Justiça Federal, porque enxergou a oportunidade de continuar a batalha contra a corrupção em um posto mais alto, mas que se considera um ministro técnico e não político. Moro afirmou que se considera um “peixe fora da água” na política.