Correio Braziliense, n. 21399, 18/10/2021. Cidades, p. 13

Mais uma vítima de feminicídio no DF

Adriana Bernardes
Edis Henrique Peres


Femicídio, seguido de suicídio. Esta é a principal linha de investigação da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam II) para as mortes dos empresários Olívia Makoski, 47 anos, e Francisco de Assis Guembitzchi, 55, na madrugada de ontem. Olívia entra para a trágica estatística das mulheres assassinadas em razão de gênero e no contexto de violência doméstica no Distrito Federal. Somente este ano, foram 17 casos, quatro a mais do que no mesmo período de 2020.

As informações preliminares colhidas pelos investigadores apontam que os filhos dos empresários, duas mulheres de 23 e 25 anos e um rapaz de 29, estavam em casa no momento do crime. De acordo com os relatos dos filhos, Francisco teria atirado duas vezes em Olívia e, em seguida, se matado com golpes de faca no peito e no pescoço. "Uma das filhas acordou com a irmã gritando 'o que você fez com a minha mãe' repetidas vezes e, quando chegou na varanda, encontrou a mãe morta e o pai andando de um lado para o outro do quintal se esfaqueando no peito e no pescoço", afirmou o delegado plantonista da Deam II, Bruno Gomes.

Quando a reportagem chegou à residência da família, no Pôr do Sol, os corpos já haviam sido levados pelos profissionais do Instituto de Medicina Legal (IML). Os vizinhos preferiram não comentar sobre o crime ou a rotina da família. Dois homens conversavam no portão da casa. Um deles, Jason Clemente, se identificou como advogado da família e o outro disse ser sobrinho de Olívia. Ambos foram categóricos em dizer que nenhum membro da família comentaria sobre o corrido devido ao estado emocional de todos.

Em choque
O casal era dono do restaurante Querência do Sul, na QNP 30, em Ceilândia. Olívia, Francisco e os filhos estavam sempre no estabelecimento. Uma netinha do casal também circulava com frequência entre as mesas encantando os clientes. Neste domingo, pela primeira vez em anos, as portas do estabelecimento que funcionava todos os dias estavam fechadas. Durante aproximadamente 60 minutos em que a nossa equipe esteve no local, presenciou clientes chegando em busca de informações.

O crime chocou frequentadores e comerciantes da quadra, com quem Olívia e Francisco mantinham um bom relacionamento. Ninguém com quem o Correio conversou imaginava que o homem seria capaz de matar Olívia. Muito menos que eles enfrentavam uma crise no casamento. "Era um casal muito tranquilo. A mulher, super atenciosa. O homem também. Nunca presenciei grosseria entre eles", relatou a servidora pública aposentada Luzia Elvira da Nóbrega, 57 anos. Cliente antiga, comprava a marmita diariamente no Querência do Sul.

No entanto, Olívia e Francisco viviam um momento complicado na relação, com relatos de idas e vindas. Segundo o que a polícia apurou até o momento, Francisco não aceitava o fim da união e estava inconformado com o fato de Olivia ter começado um relacionamento com outra pessoa. O casal iniciou o processo de separação há cerca de dois meses e, em 26 de setembro, a mulher denunciou o marido por perseguição.

Ao Correio, o delegado plantonista da Deam Bruno Gomes informou que a empresária havia tentado romper o casamento outras vezes, mas os dois acabavam reatando por insistência dele. Quando o denunciou este ano por perseguição, ela havia decidido dar um basta na relação. "Ela queria terminar o casamento e ele não aceitava. Ela começou um novo relacionamento e ele passou a persegui-la, para descobrir quem era a pessoa", relatou o delegado plantonista da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher de Ceilândia (Deam II). Olívia pediu medidas protetivas de urgência e a Justiça concedeu. Francisco Guembitzchi deveria sair de casa e estava proibido de se aproximar ou fazer qualquer contato com ela.

Dono de uma farmácia a poucos metros do restaurante, Gustavo Ferreira, 36 anos, custou a acreditar que os vizinhos estavam mortos. "É um pessoal muito trabalhador. Para quem está de fora, parecia um casal tranquilo. Agora que ouvimos dizer que ele saía e voltava de casa. São muito queridos por aqui, não incomodavam ninguém. Foi um choque", resumiu Gustavo.

Investigações
Policiais da Deam II reúnem elementos para traçar os últimos passos dos empresários e concluir o inquérito. "No local, foi encontrada uma arma (revólver calibre 38) e duas facas, possivelmente as usadas no crime. Mas só teremos a confirmação com o laudo pericial e, também, do IML", pontuou delegada-chefe da unidade, Adriana Romana.

O corpo do casal foi encontrado do lado de fora da casa. O crime aconteceu por volta de 1h. O Corpo de Bombeiros tentou socorrer as vítimas, mas, quando chegou, elas estavam mortas. "Ela (Olívia) estava na área e ele um pouco mais afastado, como se fosse na parte do quintal", detalha a delegada. Segundo informações, os filhos do casal estavam na residência com os pais, no entanto, devido ao abalo emocional, ainda não prestaram um depoimento detalhado.

Onde pedir ajuda?

Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência — Secretaria de Políticas para as Mulheres

da Presidência da República

Telefone: 180 (disque-denúncia)

Centro de Atendimento

à Mulher (Ceam)

De segunda a sexta-feira, das 8h às 18h

Locais: 102 Sul (Estação do Metrô), Ceilândia, Planaltina

Delegacia Especial de Atendimento à Mulher (Deam)

Entrequadra 204/205 Sul — Asa Sul

(61) 3207-6172

Disque 100 — Ministério

dos Direitos Humanos

Programa de Prevenção à Violência Doméstica (Provid) da Polícia Militar

Telefones: (61) 3910-1349 /

(61) 3910-1350