O Globo, n.31.582, 25/01/2020. Economia. p.27

Emprego com carteira
Renata Vieira 

 

Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) divulgados pelo Ministério da Economia mostram reação do mercado de trabalho em 2019 e sinalizam perspectiva de crescimento também neste ano. Foram criadas 644.079 vagas com carteira assinada, contra 115 mil em 2018. Em todas as regiões do país houve mais contratações do que demissões ao longo do ano passado. O Rio teve o pior desempenho entre as capitais e fechou 6.640 postos, mas no estado o saldo foi positivo, com 16.829 empregos. Para analistas, indicador reflete retomada gradual da economia.

O mercado de trabalho brasileiro reagiu e terminou 2019 com o melhor resultado em seis anos, sinalizando manutenção de crescimento em 2020. Foram criados 644.079 vagas de trabalho com carteira assinada, de acordo com o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), divulgado ontem pelo Ministério da Economia. Em 2018, haviam sido criados 115 mil postos de trabalho no país. Na contramão do resultado nacional, o município do Rio terminou o ano com o pior desempenho entre as capitais do país em termos de geração de emprego. Depois de encerrar 2018 coma criação de 3.205 vagas de trabalho com carteira assinada, a capital fluminense fechou 6.640 postos em 2019. Já o Estado do Rio conseguiu encerrar 2019 com saldo positivo de empregos —foram 16.829. Do ponto de vista regional, os resultados foram positivos: as cinco regiões do país contrataram mais doque demitiram ao longo do ano passado. Segundo o secretário de Trabalho da pasta, Bruno Dalcolmo, a melhora entre 2018 e2019é um reflexo do aumento da confiança do empresariado: — Isso é mais uma característica da retomada da economia brasileira, da confiança do empresariado na recuperação. A retomada do emprego, segundo analistas, acompanha o crescimento gradual da economia, e seu desempenho deve se manter aquecido este ano. Para o economista Daniel Duque, pesquisador da área de Economia Aplicada do Ibre/ FGV, o saldo de vagas veio dentro do esperado. —O consumo das famílias alavanca comércio e construção civil, e esses são dois setores intensivos em mão de obra, entre os que mais geram empregos —disse. Na projeção do pesquisador, 2020 verá uma aceleração maior da economia e, com um avanço de cerca de 2,2% do PIB, é possível que sejam geradas 920 mil vagas no ano. Boa parte do desempenho positivo em 2019 se deve à geração de empregos no setor de serviços. Esse segmento criou 382.525 postos de trabalho, mais da metade de todos os empregos no ano. Em seguida, vem o comércio, com 145.475 novos empregos. A construção civil, que apresentou resultados negativos durante a recessão, abriu 71.115 vagas, número equivalente a quatro vezes o que foi registrado em 2018. —Temos visto o número de lançamentos crescendo bastante. A construção civil tem uma cadeia produtiva importante para a geração de empregos —disse Dalcolmo. O economista-chefe da Ativa Investimentos, Carlos Thadeu Filho, diz que o emprego reflete a retomada do consumo das famílias:

— O peso maior dos serviços (na geração de vagas) mostra um nível de consumo mais forte, que é reflexo também da retomada do crédito. Este gera ainda uma atividade maior da construção civil. A loja Biju Pet, no Centro do Rio, contratou três funcionários no fim de 2019. Uma das pessoas que garantiram a carteira assinada foi Ana Beatriz Souza, de 24 anos. O contrato da jovem, que era de 45 dias, se tornou efetivo:

— Eu estava desempregada há quase cinco anos. Com a crise no Rio, ficou difícil conseguir emprego. Finalmente consegui ser efetivada e começar o ano com segurança. Em dezembro, o saldo de empregos foi negativo, como historicamente ocorre nesse mês do ano, após as contratações temporárias para atender às demandas das festas de fim de ano. No último mês de 2019, 307.311 vagas foram fechadas no país. O maior número de desligamentos foi tambémem serviços: 113.852. De acordo com o secretário de Trabalho, o governo persegue ametade um milhã ode novos empregos em 2020, mas, para isso, será preciso um crescimento de 3% da economia. A previsão oficial da Secretaria de Política Econômica, contudo, é de 2,4%. — Depende do cenário internacional e da aprovação das reformas no Congresso —afirmou Dalcomo.

Criado pela reforma trabalhista, o contrato intermitente (em dias alternados ou por algumas horas) gerou 85.716 postos. A maior parte em serviços e comércio. Já no regime de trabalho parcial (por um período menor e determinado), foram criados 20.360.

RIO TEM RECUPERAÇÃO TARDIA

A maior parte das vagas fechadas na cidade do Rio foi no setor de serviços. Na avaliação de Daniel Duque, o mau desempenho da cidade se deve, entre outros fatores, à migração de mão de obra qualificada para a capital paulista: — O estado ainda está sendo beneficiado pela indústria do petróleo, que está se recuperando, mas o desempenho da cidade é ruim como um todo. Percebemos que há uma fuga de trabalhadores qualificados do Rio para São Paulo. Outras sete capitais também encerraram o ano no vermelho em empregos formais: Porto Alegre (RS), Belém (PA), Maceió (AL), Rio Branco (AC), João Pessoa (PB), Natal (RN) e Teresina (PI). O economista Marcel Balassiano, especialista em economia fluminense da FGV, explica que o Rio entrou em recessão depois do Brasil, com as obras para Copa e Olimpíada, mas só no ano passado começou a ensaiara recuperação. —Desde o segundo semestre de 2016 a taxa de desempregodo Rio está acimada média brasileira ,14,5% contra 11,7%.