O Globo, n. 31491, 26/10/2019. País, p. 10
‘Rei Arthur’ é preso em Miami e logo libertado
Chico Otavio
Daniel Biasetto
Investigado pela força-tarefa da Operação Lava-Jato no esquema de compra de votos na eleição do Rio para receber os Jogos Olímpicos de 2016, o empresário Arthur Soares, conhecido como “Rei Arthur”, foi posto em liberdade ontem, menos de 24 horas depois de ser preso em Miami, nos Estados Unidos. Ele estava foragido desde setembro de 2017 e constava da lista de procurados da Interpol. A informação foi confirmada pelo advogado de Soares, Nythalmar Dias Ferreira. Arthur Soares foi posto em liberdade após os advogados entregarem a documentação exigida para a renovação de seu visto, como informou o colunista Lauro Jardim. Rei Arthur fora detido por causa de seu visto vencido. A defesa de Arthur Soares disse ao GLOBO que empresário foi equivocadamente detido por não portar os papéis necessários para o seu visto.
Em nota divulgada antes da libertação de Arthur Soares, o MPF informou que “teve ciência da prisão do réu foragido” e que os procuradores da Lava-Jato no Rio “esperam que sejam cumpridos os pedidos já formalizados às autoridades americanas afim de dar prosseguimento ao processo”. O empresário era alvo de um pedido de extradição feito pelo Ministério Público Federal às autoridades americanas em 2017. À época, Rei Arthur foi acusado, na Operação Unfairplay, de pagar propinas a membros do Comitê Olímpico Internacional (COI) para que o Rio fosse eleito sede dos Jogos Olímpicos de 2016. O governo dos Estados Unidos, porém, não atendeu ao pedido. Em agosto, Rei Arthur foi localizado nos Estados Unidos pela reportagem do Fantástico, da TV Globo. Ele vivia em uma residência na ilha de Miami Beach, na Flórida. Segundo a reportagem, o empresário levava uma vida com hábitos de luxo e circula livremente pelas ruas.
Bilhões em contratos
Dono do grupo Facility, Arthur Soares era um dos principais prestadores de serviços no governo de Sérgio Cabral, em áreas como limpeza, segurança, alimentação e saúde. De acordo com investigação do Ministério Público do Rio, o grupo Facility participava de licitações fraudulentas e depois repassava valores dos contratos, de forma ilícita, a autoridades dos Poderes Legislativo e do Executivo fluminense. Os contratos do empresário com o governo do Estado do Rio chegaram a totalizar R$ 3 bilhões na gestão de Cabral. Em depoimento ao juiz Marcelo Bretas, da7ªVaraF eder al Criminal do Rio, em julho deste ano, Cabral admitiu ter comprado votos para a candidatura olímpica do Rio, no valor de US$ 2 milhões. O ex-governador do Rio disse que pediu a Arthur Soares que combinasse o pagamento com Leonardo Gryner, braço-direito do então presidente do Comitê Olímpico do Brasil (COB), Carlos Arthur Nuzman. Segundo Cabral, a verba seria descontada do “crédito” com o empresário — isto é, de parte das propinas que o ex-governador receberia de Rei Arthur. O acerto do pagamento ocorreu, de acordo com o Ministério Público Federal, em Paris, em setembro de 2009, dias antes do episódio que ficou conhecido como “a farra dos guardanapos” — quando Cabral comemorou o recebimento da condecoração máxima do governo francês, a comenda Légion D’Honneur, com uma festa; ele e convidados apareceram em fotos com guardanapos na cabeça. No processo em que prestou depoimento, Cabral é acusado de receber US$ 10,4 milhões em propina de Rei Arthur, entre março de 2012 e novembro de 2013, e ocultar o valor no exterior, além de ter recebido um total de R$ 1 milhão no Brasil entre 2007 e 2011. Segundo o MPF, o pagamento era feito no país com entregas de recursos em espécie, celebração de contratos fictícios e pagamento de despesas pessoais. Cabral negou a acusação e disse não ter contas no exterior, a não ser a que encerrou em 2003.