Título: PT se divide, apesar de apelo do Planalto
Autor: Tina Vieira
Fonte: Jornal do Brasil, 18/04/2005, País, p. A3
Governo federal sofre derrota dentro do partido e Genoino terá de enfrentar candidata mais ligada à militância petista
De nada adiantou o apelo pela unidade partidária feito pelo chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu: a tendência Movimento PT decidiu lançar candidatura própria à presidência do partido. Depois de dois dias de reunião e de muito debate, 90% dos delegados presentes ao encontro em Brasília derrotaram os defensores da candidatura de José Genoino e mandaram um recado claro ao governo: querem um PT mais independente.
A deputada Maria do Rosário (RS) foi a escolhida para disputar com José Genoino na eleição que acontece em setembro. No primeiro discurso como candidata, Rosário defendeu a necessidade de pôr fim à hegemonia do Campo Majoritário, corrente do PT que representa 60% do partido e à qual pertence Genoino. Segundo ela, a tendência não valoriza as demais, as bases e a militância, e é um grupo que pensa ser maior do que a estrela petista. Rosário também fez críticas à política econômica e reforçou a idéia de que o PT precisa apoiar o governo, mas não pode abrir mão de ser crítico.
- O partido não pode restringir sua atuação à atuação do governo - disse Rosário.
Em discurso para integrantes da corrente, sábado, Dirceu e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia, defenderam a união do PT para garantir a reeleição de Lula em 2006.
O Movimento PT é uma tendência que representa 10% do partido. Dentro da legenda, é considerada uma corrente de centro. Tem oito deputados federais, entre eles o líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia, que foi voto vencido na decisão de ontem.
A eleição para a presidência do PT acontecerá em setembro. Mesmo os maiores defensores da candidatura de Maria do Rosário sabem que é pouco provável que ela vença José Genoino nas urnas. Mas a escolha da deputada gaúcha mostra que o partido está dividido até mesmo dentro de uma tendência que, até hoje, apesar das divergências quanto à condução da política econômica, das críticas à comunicação do governo e à política de reforma agrária, sempre esteve ao lado do governo.
- Isso mostra que a militância está inquieta - reconheceu o líder do governo, deputado Arlindo Chinaglia.
Apesar do sinal de insatisfação da base, ele acredita que após a eleição de Genoino o partido sairá unido.
- Existe mais de um caminho para chegar à unidade - completou.
O documento oficial divulgado após o encontro do Movimento PT reflete muito bem a insatisfação da base com a atuação do PT e do governo nestes dois primeiros anos de mandato. ''Não abrimos mão de defender mudanças graduais na política econômica, como a redução do superávit primário e da taxa de juros'', diz o documento. ''Continuaremos defendendo a necessidade de uma maior ousadia da reforma agrária, no aprofundamento do caráter democrático e popular do governo, na imediata necessidade de alterações globais e pontuais na política de comunicação''.
Em outro ponto, o Movimento PT defende o apoio ao governo Lula, mas reforça que o partido não pode deixar de lado ''seus compromissos históricos de construir uma sociedade mais justa, fraterna e - sem medo de ser feliz - no rumo à utopia socialista''. Para completar, o documento fala da necessidade de mais democracia dentro do partido e de mais autonomia do PT em relação ao governo.
Rosário não deve ser a única adversária de Genoino na eleição de setembro. A esquerda do PT deve lançar o nome do ex-prefeito de Porto Alegre Raul Pont.