O Globo, n.31.580, 23/01/2020. Rio. p.12

Celular de pastor morto foi usado em casa de delegado
Carolina Heringer 

 

O mistério em torno do sumiço do celular do pastor Anderson do Carmo, marido da deputada federal Flordelis dos Santos, assassinado em 16 de junho do ano passado, ganhou novo capítulo. A Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo (DHNSG) descobriu que o aparelho foi ligado pela última vez na casa de um delegado da Polícia Federal em Brasília com um chip habilitado no nome de um pastor evangélico. As informações foram divulgadas ontem pelo “RJ-TV”, da Rede Globo.

O “trajeto” do celular de Anderson, que nunca foi entregue à polícia, está sendo reconstituído com base em dados de redes wi-fi utilizadas pelo aparelho, nos dias posteriores ao crime. Os investigadores já descobriram, por exemplo, que, horas após o assassinato, o celular foi conectado à rede de wi-fi da casa do senador Arolde de Oliveira (PSD), na Barra da Tijuca. Nessa ocasião, foi usado um chip em nome de Yvelise de Oliveira, mulher do parlamentar. Na semana passada, ela foi intimada a prestar depoimento, mas ainda não há data marcada. A mulher de Arolde é tratada pela polícia como testemunha do caso.

Arolde esteve na residência da família da vítima cerca de nove horas após o assassinato. Anderson foi morto de madrugada, na garagem de casa, no bairro de Pendotiba, em Niterói. O senador chegou ao local por volta de meio-dia. Em nota, Arolde disse ontem que ele e a mulher estão à disposição da polícia. “A situação de onde saiu essa trama é tão absurda que nem tenho o que dizer. Não sei a origem disso. Deve se tratar de um assunto de natureza política”.

PADRINHO POLÍTICO

O senador Arolde de Oliveira é um dos padrinhos políticos de Flordelis. Eles fizeram campanha juntos em 2018, quando foram eleitos. A ligação entre a família de Flordelis e a de Arolde não fica restrita a questões políticas. Há mais de dez anos, a deputada federal é contratada da MK Music, gravadora do senador, da qual Yvelise é presidente. Arolde esteve no velório de Anderson, na noite do dia 16, na sede do Ministério Flordelis, em São Gonçalo.

Ainda segundo os policiais que investigam o assassinato, há registros de que o celular, de pois de passar pela casa de Arolde, seguiu para Brasília. Foi lá que utilizou uma rede de wi-fi de um delegado federal com um chip de um pastor.

As investigações do caso Flordelis estão mudando de mãos. Anteontem, a delegada Bárbara Lomba, que era titular da DHNSG, foi transferida para a 11ª DP (Rocinha). No lugar dela, assume o delegado Allan Duarte, que ficará responsável pela apuração da morte de Anderson e de outros inquéritos em andamento na delegacia.