Título: Século 21 começa hoje para a Igreja
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 18/04/2005, Internacional, p. A7

Cardeais estão reclusos desde ontem à noite para decidir os rumos da espiritualidade de 1 bilhão de fiéis

VATICANO - O século 21 começa hoje para a Igreja Católica. Os 115 cardeais que vão participar do primeiro conclave dos anos 2000 estão reclusos desde ontem à noite e acordaram cedo hoje para a missa Pro eligendo Pontifice, na Basílica de São Pedro.

Quando a fumaça branca alcançar os céus do Vaticano, mais do que um novo papa, estarão decididos os novos rumos da espiritualidade de 1 bilhão de fiéis no planeta.

Mais uma vez as salas da Santa Sé vão abrigar o embate fundamental entre a História e a transcendência, entre o dinâmico e o permanente. Em pauta, estão temas como o uso do preservativo no combate à Aids, o casamento de padres (cada vez mais escassos), a pesquisa científica com células-tronco, o aborto, a ordenação das mulheres, a pobreza e a injustiça social. Para o isolamento, os cardeais carregam o desafio existencial de qualquer religião, o de dialogar com a História sem perder a natureza perene da fé.

Os 115 escolhidos, sobre os quais paira a decisão, chegaram ontem à Casa Santa Marta, onde ficarão hospedados até a escolha do novo pontífice. Depois da missa matinal, os cardeais voltam para os aposentos para almoçar e se reunirão no Salão das Bênçãos do Palácio Apostólico. Em procissão se dirigirão para a Capela Sistina, onde será realizado o conclave. Não se sabe se já começarão a votar ou se vão esperar até a terça-feira.

Durante os dias de isolamento, os cardeais vão celebrar uma missa em Santa Marta às 2h30m (horário de Brasília). Às 4h se dirigirão para a Capela Sistina, a um quilômetro da casa. Eles podem ir a pé ou de ônibus, como preferir.

Na Capela Sistina rezarão primeiro as laudas da Liturgia das Horas e imediatamente depois começarão as votações.

A normativa vaticana estabelece três votações por dia, uma de manhã e outras duas pela tarde.

Após a segunda votação de cada rodízio serão queimadas as cédulas e as eventuais anotações dos cardeais em cada uma delas.

Segundo os tempos aproximados previstos pelo Vaticano, as fumaças que anunciam ao mundo se há papa (branca) ou ainda não há (preta) poderão ocorrer por volta das 7h e por volta das 14h (horas de Brasília).

Para ser eleito, um candidato precisa de dois terços dos votos, mas depois de 30 votações, caso ainda não haja uma decisão, o pleito é resolvido com maioria simples.

No conclave estarão representados os cinco continentes: Europa, com 58 cardeais eleitores; América Latina, com 20; América do Norte, com 14; África, com 11; Ásia, com 10; Oceania, com 2.

O país com mais cardeais eleitores é a Itália (20), seguido dos EUA (11); Alemanha e Espanha (6 cada); França (5); Brasil (4).

Além dos cardeais, está prevista no conclave a presença de funcionários do Vaticano, para acudirem às exigências pessoais e de serviço, que dizem respeito à realização da eleição: o secretário do colégio cardinalício, que desempenha as funções de secretário da assembleia eleitoral; o mestre das celebrações litúrgicas pontifícias, com dois cerimoniários e dois religiosos adscritos à sacristia pontifícia; um eclesiástico escolhido pelo cardeal decano (Ratzinger), para lhe servir de assistente; alguns religiosos de diversas línguas para as confissões, bem como dois médicos e enfermeiros para eventuais emergências; as pessoas adscritas aos serviços técnicos, de alimentação e de limpeza; os condutores que transportam os eleitores entre a Domus Sancta Marthae e o Palácio Apostólico; e os sacerdotes admitidos como assistentes de alguns cardeais eleitores.

Todas elas, segundo a Santa Sé, devidamente advertidas sobre o significado e a extensão do juramento prestado.