O Globo, n. 31497, 01/11/2019. País, p. 6

Bolsonaro manda cancelar assinaturas da ‘Folha’


O presidente Jair Bolsonaro disse, na tarde de ontem, que determinou o cancelamento de todas as assinaturas do jornal “Folha de S.Paulo” no governo federal. A declaração foi feita durante entrevista à TV Bandeirantes. Para o presidente, o jornal não é “confiável”.

— Determinei que todo o governo federal rescinda e cancele a assinatura da “Folha de S.Paulo”. A ordem que eu dei (é que) nenhum órgão do meu governo vai receber o jornal “Folha de S.Paulo” aqui em Brasília. Está determinado. É o que eu posso fazer, nada além disso — afirmou Bolsonaro.

— Espero que não me acusem de censura. Está certo? Quem quiser comprar a “Folha de S.Paulo”, ninguém vai ser punido, o assessor dele vai lá na banca e compra lá e se divirta. Eu não quero mais saber da “Folha de S.Paulo”, que envenena o meu governo a leitura da “Folha de S.Paulo”.

O presidente também acusou o jornal de distorcer as suas declarações em uma entrevista feita durante um café da manhã há mais de um mês no Palácio do Alvorada. Em nota, a “Folha de S.Paulo” rebateu e disse que “lamenta mais uma atitude abertamente discriminatória do presidente da República contra o jornal, e vai seguir fazendo, em relação a seu governo, o jornalismo crítico e apartidário que a caracteriza e que praticou em relação a todos os governos.

A entrevista mencionada pelo presidente reflete de maneira correta o conteúdo de suas declarações. Ela foi produzida a partir de uma conversa inicialmente feita off the records (não destinada à publicação, no jargão jornalístico). Ao final da conversa, Bolsonaro autorizou que a Folha publicasse suas declarações, evitando reproduzir os palavrões pronunciados por ele. O jornal respeitou o pedido, ao contrário do que o presidente afirma agora”.

ANJ critica medida

A Associação Nacional de Jornais (ANJ) também repudiou as declarações do presidente da República contra a “Folha de S.Paulo” e apontou que a falta de pluralidade só traz prejuízos para a administração pública. “A ANJ lamenta que, assim como agiu o presidente Donald Trump há poucos dias, o presidente Jair Bolsonaro escolha caminho idêntico, o que significará menos pluralidade e informação profissional para o serviço federal. Mesmo que as assinaturas para governos representem uma receita ínfima para jornais, a livre circulação de notícias e ideias ajuda a construir políticas públicas, a corrigir rumos e aperfeiçoar caminhos na administração pública”, afirma a entidade em nota.