Título: Congresso tenta conter a crise
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Fonte: Jornal do Brasil, 18/04/2005, Internacional, p. A12
População volta às ruas e pede a renúncia de todos os deputados. Protestos se espalham pelo país
QUIT0 - Em meio à crise política e aos protestos que se espalham para além da capital equatoriana, o Congresso do Equador ainda tentava até ontem à noite, em sessão extraordinária convocada pelo presidente da casa, Omar Quintana, diminuir a insatisfação popular, que pede a renúncia do presidente Lucio Gutiérrez e agora também a de todos os deputados.
O presidente do Parlamento equatoriano convocou para ontem à noite a sessão do plenário com o intuito de ratificar a decisão adotada, na sexta-feira, por Gutiérrez, de destituir a Suprema Corte e de iniciar a discussão da reforma da Lei Orgânica da Função Judicial.
A convocação foi feita por Quintana no sábado à tarde, pouco antes de Gutiérrez levantar o estado de emergência decretado em Quito e que durou menos de 24 horas diante do aumento dos protestos populares.
No entanto, milhares de cidadãos exigiram ontem a renúncia dos 100 deputados do Congresso porque foram incapazes de resolver o conflito no poder judiciário que começou em dezembro passado.
O Congresso foi foco das queixas dos moradores de Quito, que convocaram um dia de protestos chamado de basurazo (lixaço), com a idéia de jogar lixo na sede da Câmara.
O Legislativo tentava até ontem superar o conflito interno entre a oposição e os governistas, que não conseguiram obter um consenso para a proposta de reorganizar a Suprema Corte. A primeira reestruturação do órgão em dezembro marcou o início da crise.
As acusações mútuas entre partidários e opositores ao governo sobre as supostas intenções de negociar acordos para a substituição de juízes gerou indignação na população, que também protesta agora contra os deputados.
Os grupos parlamentares de oposição, que, no sábado, haviam antecipado uma reunião extraordinária, seis horas antes da sessão convocada por Quintana, não conseguiram quórum para iniciar oficialmente o debate.
Os deputados da oposição, que pensavam contar com o apoio de pelo menos 52 deputados dos 100 que formam o Parlamento unicameral, decidiram suspender essa convocação ao constatar que seus colegas não haviam comparecido.
No entanto, os parlamentares asseguraram participação na sessão convocada por Quintana.
O fato contrariou os participantes dos protestos populares, que insistem que ''todos deixem'' o poder, inclusive parlamentares, juízes, autoridades do governo e o próprio Gutiérrez.
O presidente equatoriano, que vem enfrentando a onda de manifestações nos últimos cinco dias, decidiu viajar para a cidade tropical de Babahoyo, onde foi participar de uma manifestação de apoio de uma associação de caminhoneiros.
Segundo analistas, a presença de Lucio Gutiérrez em Babahoyo também tem uma conotação política. A cidade é reduto eleitoral do Partido Roldosista Equatoriano, aliado do governo e liderado pelo ex-presidente Abdala Bucaram, ex-exilado no Panamá.
Sábado à noite, cerca de 2 mil manifestantes percorreram 8km e chegaram a duas quadras da casa do governo, onde foram dispersados pela Polícia, que usou gás lacrimogêneo. Muitas pessoas denunciaram que a polícia abusou no uso da força.