O Globo, n. 31492, 27/10/2019. Mundo, p. 43

Em Abu Dhabi, Bolsonaro discute acordo sobre armas

Maiá Menezes


O presidente Jair Bolsonaro chegou ontem a Abu Dhabi, capital dos Emirados Árabes, na primeira escala de sua viagem ao Oriente Médio, que inclui ainda Qatar e Arábia Saudita. Bolsonaro foi saudado por uma cerimônia militar, e recebido pelo xeque Khalifa bin Tahnoun Al Nahyan, diretor do gabinete de assuntos relativos aos mártires, soldados ou civis que morreram pelo país. Ao deixar o evento, ele mencionou os dois acordos que deverá formalizar hoje com o país, e pela primeira vez respondeu sobre as conversas bilaterais na área de Defesa.

— Todos os países, onde quer que eu vá, essa posição sobre Defesa é colocada na mesa. O Brasil foi esquecido nesta área por 30 anos. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso a questão de Defesa foi deixada em segundo plano. Por quê? Porque nós, das Forças Armadas, fomos um grande obstáculo ao socialismo, por isso buscavam quebrar nossa espinha dorsal, nos tornar inoperantes —disse. Na sequência, ele foi ainda mais incisivo, sem especificar se o Brasil ia comprar ou vender armas:

— A cooperação que pode haver aqui é armamento. Meios de se defender. Ninguém quer um Brasil belicoso, mas temos que ter o mínimo de capacidade de dissuasão. Nos últimos dois anos, o Brasil registrou um aumento nos gastos militares acima da média mundial, e saltou de 13º, em 2016, para 11º no ranking das nações que mais investem no setor. Entre os países americanos, o Brasil fica atrás apenas dos EUA, segundo o Instituto Internacional de Pesquisa da Paz de Estocolmo (Sipri).

Na última década, os gastos militares do Brasil cresceram 17%, no total. Em 2008, um acordo coma França para transferência de tecnologia resultou, uma década depois, no lançamento de dois submarinos produzidos no país. Em 2014, o governo brasileiro comprou 36 caças Gripen da empresa sueca Saab. E ainda na década de 1990, o governo destinou US $1,4 bilhão ao Sistema de Vigilância da Amazônia

(Sivam), o maior investimento individual na área de Defesa, inaugurado em 2002 por Fernando Henrique. Em Abu Dhabi, Bolsonaro também afirmou que a América Latina precisa estar estável. Ele disse esperar que o kirchnerismo—que tende a voltarà Argentina coma possível eleição hoje do peronista Alberto Fernández, quete ma ex-presidente Cristina Kirchner como candidata a vice — “esteja alinhado com as questões democráticas do Mercosul, o que a Venezuela não vinha fazendo há muito tempo”.

— Estamos preocupados coma estabilidade democrática. Mas oBra si lé muito importante na estabilidade da América do Sul —reafirmou. Bolsonaro, que vem de uma maratona pela Ásia, afirmou ainda que quer ser um player no mercado árabe, “longe de qualquer visão ideológica”.

— Nós visamos essas visitas sem o viés ideológico. Queremos ampliar nosso mercado de trabalho. Estamos nos aproximando cada vez mais de países que economicamente são... o quê? Capitalistas.