O Globo, n.31.579, 22/01/2020. Economia. p.21

Trump critica ‘catastrofistas’, e Greta renova apelo

 

Donald Trump e Greta Thunberg expuseram ontem suas posturas radicalmente opostas sobre as mudanças climáticas, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça. O presidente dos Estados Unidos criticou os “catastrofistas”, enquanto a jovem ativista sueca afirmou que não está se fazendo nada pelo planeta. E disse que só plantar árvores não basta, aparentemente rebatendo uma promessa feita por Trump.

— Temos que rechaçar os eternos catastrofistas e suas previsões de apocalipse — afirmou Trump em seu discurso no Fórum, em cuja plateia estava Greta.

‘INAÇÃO ALIMENTA CHAMAS’

O presidente americano disse ainda que os EUA participarão da campanha do Fórum de Davos para plantar um trilhão de árvores em todo o mundo até 2030. Ele ainda falou longamente sobre a importância econômica do petróleo e do gás e chamou os ativistas ambientais de “herdeiros das cartomantes tolas do passado”:

— Esta é uma época para otimismo.

Cerca de uma hora depois, Greta pediu a suspensão imediata dos investimentos em combustíveis fósseis. Ela ainda afirmou que os líderes globais apresentam “palavras e promessas vazias”:

— Vocês dizem que as crianças não deveriam se preocupar, que não deveriam ser pessimistas, e depois, nada, silêncio — afirmou a jovem ativista sueca. —É claro que é bom plantar árvores, mas isso nem chega perto do que é preciso fazer e não pode substituir a mitigação real e a recuperação da natureza.

Algumas horas antes, em um dos painéis do Fórum, Greta havia criticado a inação dos poderes públicos.

— Estamos todos lutando pelo clima e pelo meio ambiente. Mas, se olharem para isso de uma perspectiva geral, nada foi feito na prática. Há uma diferença entre ser ouvido e isso levar a algo. Eu sempre sou ouvida, mas a ciência e a voz dos jovens ainda não estão no centro das atenções —afirmou.

Ela ainda repetiu uma frase usada no mesmo Fórum de Davos, no ano passado:

— Nossa casa ainda está pegando fogo. A inação de vocês está alimentando as chamas.

Trump e Greta não citaram o nome um do outro, nem se reuniram em Davos. Eles simbolizam o abismo entre a visão daqueles que, como o presidente americano, acreditam que a proteção ambiental é um freio ao crescimento econômico e o apelo de uma geração jovem que exige medidas urgentes antes que seja tarde demais.

Poucos executivos das indústrias de petróleo, gás e carvão — consideradas as maiores responsáveis pelo aquecimento global — foram ao painel no qual Greta falou. Já Trump foi recebido com um apelo, em letras enormes, escavado na neve de Davos: “FAÇA ALGO SOBRE O CLIMA”.

Trump, que enfrenta um processo de impeachment descrito por ele mesmo como “farsa”, fez um discurso com ares eleitorais. O presidente americano, que é candidato à reeleição, detalhou as as realizações econômicas de seu governo e afirmou que não deixaria “socialistas radicais destruírem nossa economia”, em uma possível referência aos rivais do Partido Democrata.

— O sonho americano está de volta, maior e mais forte que antes —disse Trump.

PROTESTO CONVOCADO

Segundo Ian Bremmer, presidente da consultoria Eurasia Group, os participantes de Davos podem não gostar de Trump, mas “apreciam suas políticas”.

— Você pode ter a Greta aqui, você pode ter várias pessoas falando de clima e sustentabilidade, mas a verdade é que Trump não enlouquece as pessoas em Davos como ele faz nos Estados Unidos —disse Bremmer à TV Bloomberg.

Centenas de ativistas ambientais chegaram ontem a Davos, depois de caminharem três dias pelos Alpes Suíços. Eles estão convocando uma manifestação para o encerramento do Fórum.