O Globo, n.31.579, 22/01/2020. Economia. p.22

Doença na China contamina mercados no mundo
Gabriel Martins 

 

Com alta de 0,39%, o dólar comercial atingiu ontem o maior patamar desde 3 de dezembro de 2019, valendo R$ 4,205. Na Bolsa de São Paulo (B 3), o índice Ibo vespa recuou 1,54%, a maior queda desde 8 de novembro do ano passado, fechando em 117.026 pontos. O mercado financeiro no Brasil seguiu o nervosismo que tomou conta das Bolsas em todo o mundo com as notícias de que uma doença respiratória letal surgida na China chegou a outros países, como os EUA.

Operadores estão preocupados com os possíveis efeitos do coronavírus — causa de uma forte pneumonia que já matou seis pessoas e infectou outras 200 — sobre a economia global. Os mercados já haviam fechado em queda na Ásia, e o movimento foi seguido na Europa e EUA.

No Brasil, as ações de empresas ligadas ao turismo, co moas companhias aéreas, estiveram entre as mais penalizadas. Os papéis da Azul caíram 2,78% e os da Gol, 2,96%. As ações da companhia de turismo CVC recuaram 4,07%. Nos EUA, as empresas do setor também foram afetadas. Ações de American e United Airlines caíram, respectivamente, 3,78% e 3,91%. As da Delta desvalorizaram 2,27%. Em Wall Street, o índice Dow Jones recuou 0,52%. Nasdaq e S&P 500 caíram, respectivamente, 0,27% e 0,19%.

—O maior temor é que a doença se espalhe para outras regiões da China agora, próximo do ano novo chinês (dia 25), uma época em que muitas pessoas viajam entrevá rias regiões do país—diz Pablo Spyer, diretor da corretora Mirae.

Luciano Rostagno, estrategista-chefe do Banco Miz uh o, avalia que muitos investidores aproveitaram para vender papéis e realizar lucros:

— Informações sobre a doença ainda são incompletas.

Exportadoras também sofreram. A Vale, que vende grandes quantidades de minério de ferro para a China, encerrou os negócios com queda de 2,32%. A ação da mineradora também foi influenciada pela denúncia do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) sobre a tragédia de Brumadinho, que envolve executivos ligados à empresa.

A alta do dólar no Brasil também foi influenciada pela proximidade da reunião do Comitê de Política Monetária( Co pom ), marcada par aos dias 4 e 5 de fevereiro. A expectativa é de mais um corte na taxa básica de juros (Selic) do país, reduzindo a atração de dólares de investidores estrangeiros.

INDICADORES FRACOS

Contribuíram para isso declarações recentes do ministro da Economia, Paulo Guedes, de que a cotação da moeda americana no país deves e manter mais tempo nesse patamar.

— Dados como vendas do varejo e produção industrial decepcionaram. Só a pré viado PIB do Banco Central foi mais animadora. Este cenário contribui para as expectativas de que a Selic passará por um novo corte — disse Leandro Ortiz, da Guide Investimentos.