Título: Dirceu: reeleição não será passeio
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 17/04/2005, País, p. A3

Chefe da Casa Civil defende alianças e pede unidade no partido para enfrentar a ''disputa mais acirrada da história do PT''

BRASÍLIA - O chefe da Casa Civil, ministro José Dirceu, afirmou ontem que, se o PT não fizer alianças para o ano que vem, o partido não conseguirá reeleger o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo Dirceu, mesmo fazendo ''cara de purgante, sendo amargo'', o PT precisa se aliar a outros partidos. Na mesma linha, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante, argumentou que, sem o apoio de partidos como o PP e o PL, o governo não consegue aprovar projetos no Congresso.

- Se nós não entendermos a necessidade de coligação, não vamos continuar governando o país.

Dirceu e Mercadante falavam para militantes da tendência Movimento PT, que iniciou ontem encontro nacional para decidir se lançaria candidato a presidência do partido. Foram ao encontro para negociar e tentar convencer os integrantes da tendência a manter a unidade em torno do atual presidente do partido, José Genoino.

O Movimento PT, que representa 10% do partido, tem oito deputados estaduais e está representado em 20 estados, aprova hoje seu documento-tese que será submetido - junto com as teses de todas outras tendências - no processo de eleição direta, que se realizará em setembro, para a escolha dos novos dirigentes do partido. O grupo avalia a possibilidade de lançar um candidato para disputar com o presidente atual do partido, José Genoino. O nome preferido seria a da deputada federal Maria do Rosário (RS). O líder do governo na Câmara, deputado Arlindo Chináglia (SP), integra esta tendência.

Ontem, no encontro, Dirceu afirmou que ''é salutar que o partido faça debates sobre as questões que apóia ou não no governo, porque o debate faz parte do jogo democrático''. Lembrou, porém, que é preciso manter a união e fazer alianças visando às eleições para a Presidência da República no próximo ano, uma vez que o PT não tem maioria na sociedade e no Congresso.

- Espero que vocês façam uma reflexão e que possam chegar a um entendimento em torno do nome do companheiro José Genoino para continuar à frente do PT.

Para reforçar seu pedido de união, Dirceu lembrou aos colegas que a eleição de 2006 será a mais difícil da história do PT.

- Não será um passeio em 200. Será pior do que qualquer outra eleição que já disputamos - afirmou, ressaltando, contudo, que acredita na vitória de Lula e na eleição de mais governadores, senadores e deputados federais.

O evento foi marcado por muitas críticas à política econômica, o que obrigou Mercadante e Dirceu a defender o ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Recém-nomeado para a presidência do Banco Popular do Brasil, Geraldo Magela questionou se o Ministério da Fazenda não havia perdido o ''timão'' da economia, por não conseguir mudar a rota em relação ao que foi herdado do governo anterior.

Virtual candidata à presidência do partido, Maria do Rosário cobrou mudanças nos rumos do governo Lula:

- Somos favoráveis à redução do superávit primário e a reaplicação dessa diferença em programas sociais. Reconhecemos a necessidade do sacrifício nos primeiros dois anos do governo Lula. Mas agora, está na hora de uma mudança na condução da política econômica - cobrou Maria do Rosário.