Título: Oposição se divide em busca da Presidência
Autor: Paulo de Tarso Lyra
Fonte: Jornal do Brasil, 17/04/2005, País, p. A3

Pefelistas saem na frente, deixando parceria com tucanos para depois

O PFL saiu na frente do PSDB e já se articula para a corrida presidencial de 2006. Com pré-candidato, o prefeito do Rio Cesar Maia, e esboçando a plataforma de campanha, os pefelistas deixaram o abacaxi nas mãos dos tucanos, que ainda não se definiram em relação a Geraldo Alckmin (governador de São Paulo), Fernando Henrique Cardoso (ex-presidente da República), José Serra (prefeito paulistano) e Aécio Neves (governador de Minas). O recado do PFL é claro: a união das oposições pode até acontecer no próximo ano, mas terá de ser algo negociado.

- Temos certeza de que, se chegarmos ao 2º turno, teremos o apoio do PSDB. Se o candidato tucano tiver êxito, contará com nosso apoio - garantiu o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC).

Para o pefelista, um grande número de candidatos é o ideal, pois evitaria que Lula fosse reeleito por simples inércia. Bornhausen reforçou que as pesquisas de opinião vão definir o rumo das candidaturas de oposição no ano que vem.

- Quem estiver mais bem colocado terá preferência. Se optarmos por diluir os votos, esse apoio poderá acontecer apenas no 2º turno.

O PFL resolveu, de fato, aparar suas arestas internas. Apesar de não haver representantes do PFL baiano no seminário do partido, realizado na última quinta - o deputado Antônio Carlos Magalhães Neto (BA) participou da abertura, mas saiu ainda pela manhã -, todos na legenda garantem que o clima interno é de harmonia. E balizam a declaração em números. Segundo eles, desde outubro - já se vão seis meses - o partido não vive uma crise interna.

Para o líder do PFL no Senado, José Agripino Maia (RN), esse movimento de independência em relação ao PSDB é uma tendência que vem se consolidando na legenda nos últimos anos. Lembra que o primeiro sinal foi dado com o lançamento da candidatura de Roseana Sarney em 2002, abrindo mão do apoio ao tucano José Serra.

O líder do PFL na Câmara, Rodrigo Maia (RJ), é pragmático ao definir as diferenças de concepção. Para ele, os projetos de poder e políticos do PFL e do PSDB diferem entre si. Desta avaliação, parte o impulso para a candidatura própria.

- Vamos defender as teses de nosso candidato e nosso partido. Esperamos que elas prevaleçam no fim.

Todos os grupos envolvidos negam que essa antecipação promovida pelo PFL represente, contudo, um racha entre os dois principais partidos da oposição. Tucanos e pefelistas trocam juras de amor, respeito e confiança. Tanto que a abertura do seminário Desenvolvimento com Liberdade, promovido pelo PFL na sexta-feira da semana passada, contou com a presença do líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio, do líder da minoria no Senado, Sérgio Guerra, e do presidente da legenda, senador Eduardo Azeredo.

- Eles governaram conosco, estão na oposição conosco e, inevitavelmente, voltaremos a governar juntos - apostou Virgílio.

O tucano lembra que as pesquisas de opinião mostram um Lula estagnado em aproximadamente 42% de aceitação popular, o que provocaria um segundo turno. Por isso, as duas legendas mantêm a esperança de retomar o governo em 2006.

- PSDB e PFL se entendem por sinais políticos, muito mais do que por palavras - resumiu Agripino Maia.

Para não azedar as relações nacionais, o caso de São Paulo, no qual os pefelistas entusiasmados colocam lenha na fogueira da candidatura de Geraldo Alckimn à Presidência - para que o vice pefelista, Cláudio Lembo, assuma o governo estadual - é tratado com cautela. Pefelistas e tucanos garantem que o assunto está circunscrito ao estado.

- A questão de São Paulo está sendo conduzida pelo estado. Acreditamos que chegaremos a um bom termo em breve - apostou Bornhausen.