Correio Braziliense, n. 21403, 22/10/2021. Política, p. 4

Ajuda do 03 para deixar o Brasil



A ida do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos para os Estados Unidos com a família contou com a ajuda do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). É o que mostram mensagens interceptadas pela Polícia Federal, que foram compartilhadas com a CPI da Covid. Ele deixou o país em julho de 2020, cerca de um mês após os diálogos com o filho 03 do presidente da República.

Nessas conversas, o deputado pede dados do passaporte do dono do Terça Livre, e pergunta o que ele precisa. "Allan. Me passa o passaporte, seus filhos, seu, sua esposa. O que você precisa", diz o texto de uma das mensagens, reproduzidos literalmente. Depois da resposta, Eduardo passa a acompanhar o trâmite do processo, pedindo ao blogueiro o número do protocolo na PF e data de agendamento.

"OK. Passaporte: só eu tenho. E minha esposa: passaporte expirado. Trump está ligando para seu pai às 17h", respondeu. Não se sabe se o ex-presidente dos EUA realmente ligou para Jair Bolsonaro, mas ele é acusado de incitar os grupos radicais que invadiram o Capitólio, em janeiro. A resposta de Allan a Eduardo serviria para reforçar a suspeita da PF de conexões do blogueiro com grupos da extrema direita norte-americana, apoiadores de Trump.

O relacionamento entre Allan e o deputado era, aparentemente, estreito. Isso porque, em uma das mensagens, chama Eduardo Bolsonaro de "Duda".

Na decisão de ontem, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que sejam bloqueadas todas as redes sociais vinculadas a Allan — o conteúdo do Terça Livre estava sendo reproduzido pelo canal bolsonarista Artigo 220, também no YouTube —, assim como suas contas bancárias. O blogueiro não poderá receber recursos das redes sociais por produção de conteúdo. O STF autorizou as quebras do sigilo sobre as transações financeiras e dos dados de mensagens e e-mails desde janeiro de 2020.

Para os investigadores, o alto volume de doações recebidas por Allan em seus multicanais é suspeito. Há registro de repasses de diversos servidores públicos, sendo que um deles fez transferências que totalizam R$ 40 mil.