Título: Funcionários na torcida
Autor: Sheila Machado
Fonte: Jornal do Brasil, 17/04/2005, Internacional, p. A7
Dentro dos muros do Vaticano, há pessoas que têm motivos bem concretos para pensar na sucessão papal. São os mais de 4 mil funcionários da Santa Sé, para quem o papa, mais do que um líder religioso, é o chefe. Apesar de jardineiros, curadores dos museus, tradutores, guardas suíços, carteiros, entre outros, estarem mantendo a rotina de trabalho de quando João Paulo II era vivo, há um clima de ansiedade no ar. A primeira questão é o nome de batismo do próximo papa. O Vaticano tem vários feriados especiais e, pelos últimos 26 anos ¿ período de reinado de Karol Wojtyla ¿ os empregados tiveram folga no dia de São Carlos Borromeo, que cai em 4 de novembro. Por uma feliz coincidência, 1º e 2 de novembro (Todos os Santos e Finados, respectivamente) também são dias de folga no Vaticano. Como é costume no Brasil e na Itália, a Santa Sé permitia que se ¿esticasse¿ o feriadão, que passava a incluir o dia 3. Por isso, tem funcionário rezando para que o novo pontífice tenha nome de santo e que, de preferência, seja Carlos, Carlo ou Karl.
Ao que tudo indica, concentram as preces dos trabalhadores vaticanos o alemão Karl Lehmann, o espanhol Carlos Amigo Vallejo e o italiano Carlo Maria Martini. Muitos pedem, no entanto, que o eleito não seja o alemão Joseph Ratzinger: as festas de São José (19 de março) e São José Trabalhador (1º de maio) já são feriado.
Outra data a ser observada é a da eleição do papa. Como o conclave começa neste 18 de abril, acredita-se que o resultado saia no dia 20 ou 21, o que não agrada aos empregados. Consultando o calendário, eles descobriram que as datas coincidem em 2011 com a Semana Santa, que já é feriado católico.