Título: 'As pessoas estão calmas, até felizes'
Autor:
Fonte: Jornal do Brasil, 17/04/2005, Internacional, p. A11
Como ex-golpista, o presidente do Equador, Lucio Gutiérrez, está confiante de que não acontecerá com ele o mesmo que ocorreu com dois antecessores (Gustavo Noboa e Abdala Bucaram Ortiz): o fim do mandato antes do tempo previsto.
Numa entrevista no palácio presidencial algumas horas antes de declarar o estado de emergência na sexta-feira, Gutiérrez disse que o descontentamento com o seu governo está confinado à capital.
- A esta altura, a maior parte do conflito político está na cidade de Quito. No restante do país, as pessoas têm um cenário diferente, estão calmas e, em alguns casos, até felizes - disse o ex-coronel do Exército.
Gutiérrez procurou conter os protestos na capital com a declaração de estado de emergência e a dissolução da Suprema Corte, numa tentativa de pôr fim a uma disputa sobre o Judiciário, que já dura quatro meses e paralisou o Congresso.
Os dois presidentes depostos desde 1997 foram derrubados em épocas de dificuldades econômicas extremas, disse Gutiérrez, que lembrou que o Equador atualmente tem uma inflação próxima de zero e forte crescimento econômico.
- Não há motivo, a não ser por razões políticas, para tentar desestabilizar o presidente - afirmou, responsabilizando a oposição pelos protestos.
Na entrevista, ele disse que nunca escondeu que o tribunal não era tendencioso e admitiu que as relações entre Guillermo Castro, presidente da Suprema Corte, e o ex-presidente Abdala Bucaram são inadequadas.
- Evidentemente, há um conflito de interesses. Eu sempre disse que o tribunal tinha ligações políticas - disse, acrescentando que os partidos da oposição também estavam representados entre os juízes.
Gutiérrez negou as alegações da oposição de que teria agido para que as acusações contra Bucaram fossem arquivadas, de forma a permitir que o ex-presidente voltasse do exílio no Panamá.
- Não houve acordo para Bucaram voltar ao país - disse.
Os preços dos títulos do governo equatoriano caíram na sexta-feira devido ao medo dos investidores de um apelo feito por Bucaram para que Gutiérrez decretasse o estado de emergência e dissolvesse o Congresso.
O presidente aceitou a primeira parte do conselho de Bucaram, mas disse que não tem planos quanto à segunda.
- Dissolver o Congresso não é uma opção - afirmou.