Título: O Islã busca o poder no Paquistão
Autor: Arthur Ituassu
Fonte: Jornal do Brasil, 17/04/2005, Internacional, p. A12
Conflito entre islâmicos e o governo Musharraf ameaça jogar no caos país com arsenal nuclear
Um país com arsenal nuclear, de maioria islâmica e fundamental na guerra contra o terrorismo levada à frente pelos Estados Unidos está por um fio. Ao chegar o fim de semana, as autoridades paquistanesas anunciaram mais um estado de alerta. A polícia baniu os comícios da oposição depois de outros protestos no país como o de 20 de março, quando 3,5km de manifestantes estiveram reunidos, nas ruas de Karachi, contra o governo do presidente Pervez Musharraf, que chegou ontem em Nova Délhi para conversas com o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh.
Principal grupo de oposição, o Muttahida Majlis Amal (coalizão de 11 partidos islâmicos) promete ir até o fim, ou seja: a deposição de Musharraf, que tem sido aliado dos Estados Unidos na guerra contra o terrorismo, ao menos na região da Ásia Central. O Norte do Paquistão faz fronteira com o Afeganistão e é composto majoritariamente por população pashtun, a mesma etnia dos antigos talibãs. Além disso, o velho regime afegão, que tinha ligações com a Al Qaeda, nada mais foi que um projeto deliberado da Inteligência paquistanesa, com o intuito de manter forte a influência de Islamabad sobre a área, cercada por potências nucleares como a China e a Rússia, e pretendentes como o Irã.
- Washington provê o Paquistão de muita ajuda econômica - afirma de Washington, ao JB, o especialista na região do Instituto Brookings, Stephen Cohen.
- Mesmo assim, o antiamericanismo por lá é muito forte.
De fato, os partidos islâmicos reclamam que a aproximação com os EUA tem desvirtuado a identidade muçulmana do país.
- Sob pressão dos americanos, Musharraf mudou a política de aproximação com o Afeganistão, que caracterizou a atuação externa do país nas últimas décadas - afirma de Peshawar, no Paquistão, a professora Farzana Gul Taj. - Agora, para agradar ainda mais Washington, ele vem tomando medidas bastante impopulares contra os povos tribais do Waziristão.
Mais problema para Islamabad. Três regiões do país sofrem com a instabilidade: o Baluquistão, a Fronteira Noroeste e as áreas tribais sob controle federal, onde estão o Waziristão do Sul e o do Norte. Não à toa, todas fazem fronteira com o Afeganistão, onde as semelhanças étnicas e culturais se sobrepõem à divisão territorial entre os dois países.
Acusadas de dar abrigo a membros da Al Qaeda, as tribos pashtuns que habitam as áreas mais pobres e subdesenvolvidas do país estão sob intenso ataque do Exército paquistanês. Por lá, a guerra contra o terrorismo faz parte do dia-a-dia.