Título: Mais do que nunca precisamos crescer
Autor: Antônio Ermírio de Moraes
Fonte: Jornal do Brasil, 17/04/2005, Outras Opiniões, p. A15

Os dados macro-econômicos dos últimos tempos têm levado muitos brasileiros a comemorarem o atingimento dos US$ 100 bilhões de exportações e o espetacular superávit da nossa balança comercial. Uma análise um pouco menos emocional do desempenho da economia brasileira perante o resto do mundo nos leva a um quadro bastante diferente.

O PIB do mundo está em torno de US$ 36,3 trilhões por ano. O brasileiro gira em torno de US$ 506 bilhões. Isso significa um pouco mais de 1% do PIB mundial, para ser preciso, 1,4%.

Olhando para o mapa, examinando o tamanho de nosso país e levando em conta o seu excepcional potencial em matéria de produção de energia renovável e exploração da área agrícola, o nosso crescimento, perante o mundo, é ridículo. Com os recursos que temos, nosso PIB deveria ser, no mínimo, 5% do PIB mundial.

Quando analisamos as nossas exportações, igualmente, os US$ 100 bilhões exportados (de março de 2004 a fevereiro de 2005) representam apenas 1,1% das exportações mundiais. Isso é irrisório perto das nossas potencialidades.

Por isso, antes de festejar, convém observar que nos últimos 15 anos, o Brasil cresceu menos do que o mundo, com raros anos de exceção, como mostra o quadro abaixo.

Esses resultados são decepcionantes. Dificilmente o Brasil conseguirá manter uma média de 3,5% na presente década (2001-2010) quando, para tirar o atraso e gerar os empregos que o povo necessita, precisaríamos crescer 6% ao ano até 2010.

E por que não crescemos? O diagnóstico está feito. O que falta é implementar, de fato, as políticas que instiguem e garantam os investimentos produtivos como é o caso das reformas tributária, previdenciária, trabalhista e educacional - e juros civilizados.

Se tivéssemos realizado essas reformas desde o tempo em que o referido 'receituário' passou a ser conhecido, nos anos 80, o Brasil seria outro. E, se nada for feito, daqui a dez anos, continuaremos sendo o país do 1%. O que seria lamentável!