O Globo, n. 31495, 30/10/2019. Economia, p. 25

Arábia Saudita anuncia plano de investir até US$ 10 bilhões no Brasil

Maiá Menezes


A Arábia Saudita pretende investir até US$ 10 bilhões no Brasil, disseram ontem os ministros da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, e das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que acompanham o presidente Jair Bolsonaro em visita àquele país. Segundo eles, os recursos virão de um fundo soberano saudita, e não haverá contrapartidas. O anúncio foi feito depois de reunião entre Bolsonaro e o príncipe herdeiro do país, Mohammed bin Salman.

—Vamos organizar um conselho de cooperação entre os dois governos com a iniciativa privada dos dois países para definir em que áreas e em quanto tempo esses recursos chegarão ao Brasil — disse Onyx, acrescentando que o Brasil será o sexto país a receber recursos do fundo saudita, depois de EUA, França, Japão, África do Sul e Rússia.

Bolsonaro sugere Angra

A declaração conjunta divulgada diz que “os dois lados expressaram seu apoio à concordância do Fundo de Investimento Público saudita (PIF) em explorar potenciais oportunidades de investimentos mutuamente benéficos em até US$ 10 bilhões”.

O ministro da Casa Civil disse esperar que o conselho esteja formado em duas a três semanas para que os investimentos possam ingressar no país em 2020. Ele citou concessões de rodovias e ferrovias do Programa de Parcerias em Investimentos (PPI) e leilões de petróleo como possíveis alvos de investimentos. O projeto de US$ 3 bilhões da Ferrogrão, linha férrea entre Mato Grosso e Pará para escoamento de produtos agrícolas, foi mencionado como possível alvo dos investimentos sauditas.

— Temos economias complementares. É notícia extraordinária —disse Onyx.

Araújo disse que o investimento é um “feito da relação que estamos construindo com o mundo árabe” e minimizou a falta de democracia e respeito aos direitos humanos na Arábia Saudita, uma “monarquia estável”.

Outra medida anunciada foi a simplificação recíproca da concessão de vistos. Araújo chegou a dizer que os vistos seriam isentos nos dois países, mas a assessoria do Itamaraty informou que as autorizações custarão US$ 80, permitindo múltiplas entradas. A validade de visto de trabalho passará de um para cinco anos.

Mais tarde, após um jantar com líderes que participarão do fórum Future Investment Initiative, em Riad, Bolsonaro disse que “as portas estão abertas para o Brasil” e que o país precisa se preocupar com a conectividade.

BRF terá fábrica saudita

Bolsonaro disse que “criou se uma amizade” entre ele e o príncipe saudita e que o incentivou a investir em turismo no Brasil:

— Propus ao príncipe herdeiro investimentos na Baía de Angra para transformá-la em uma Cancún. Ele disse que está pronto para investir, mas isso passa por um projeto para revogar um decreto ambiental.

Ontem, a BRF, dona das marcas Perdigão e Sadia, anunciou que vai construir na Arábia Saudita sua primeira fábrica em cinco anos. A empresa assinou memorando de entendimento coma agência de promoção de investimentos saudita para construir unidade de processamento de carnes. A ideia é crescer no mercado halal( a bate segundo regras muçulmanas ). O investimento deve ser de US $120 milhões. A Arábia Saudita foi a maior compradora de frango brasileiro em 2018. (Com Bloomberg News)