O Estado de S. Paulo, n. 46950, 04/05/2022. Economia & Negócios, p. B1
'Presidente já entendeu a questão do preço'

Entrevista:José Mauro Ferreira  Coelho


Terceiro a assumir o comando da Petrobras no governo atual, o engenheiro José Mauro Coelho defende a política de preços da estatal e nega qualquer pressão de Jair Bolsonaro para alterar essa rota. “O presidente não me pediu absolutamente nada específico. Só pediu para eu conduzir a companhia.”

Em sua primeira entrevista exclusiva, Coelho deixa claro que enxerga como pacificadas as discussões em torno dos reajustes de combustíveis. “Acho que o presidente já entendeu muito bem a questão de preço de mercado”, diz. Segundo ele, é injusto culpar a estatal pela alta nos postos. No cargo há menos de 20 dias, o executivo já identificou que o principal desafio à frente da estatal será melhorar a comunicação da empresa com a sociedade. A seguir, os principais pontos da entrevista:

Como é chegar à Petrobras com o mercado de petróleo bastante volátil e os preços dos combustíveis em alta?

Esse cenário internacional é bastante desafiador. Ainda temos dois fatos que afetam bastante o mercado de energia, (um deles) que é a questão da própria pandemia da covid, com a gente vendo lockdown na China que está aumentando. Às vezes, a gente tende a dizer que a covid já passou, mas ainda tem uma participação importante da pandemia e, claro, tem outro fator muito importante, o conflito entre Rússia e Ucrânia.

Como esses fatos atingem o mercado brasileiro?

Esses conflitos para o mercado de energia são muito importantes. A Rússia era uma das principais fornecedoras de petróleo, gás natural e diesel para a Europa, e essas sanções impostas à Rússia afetam muito o mercado internacional, afetam o mercado de diesel.

Ex-presidentes da Petrobras receberam mensagens de Bolsonaro reclamando dos preços dos combustíveis. O sr. já recebeu mensagem relacionada a preços?

O presidente Bolsonaro não me pediu absolutamente nada específico. Só pediu para eu conduzir a companhia. É o que estamos fazendo. Não tem uma questão relacionada a preço dos combustíveis, nada disso. Claro que tem uma questão que eu diria que é minha mesmo, de melhorar a comunicação. Acho que isso é fundamental. A população tem de entender que, da mesma maneira que o pãozinho aumenta, o óleo de soja bateu quase R$ 16 o litro, o tomate e a cenoura... nem se fala, assim é o petróleo.

Mas eles receberam mensagens de Whatsapp quando reajustavam o preço.

O presidente já entendeu muito bem a questão de preço de mercado. Li uma reportagem recente em que o presidente fala claramente assim: ‘O governo tem de ter soluções para os preços dos derivados’. Ele colocou perfeitamente ali. O governo precisa criar os mecanismos e instrumentos para (minimizar os efeitos de) casos de aumento de preço dos combustíveis em momentos atípicos como este que vivemos.