O Estado de S. Paulo, n. 46950, 04/05/2022. Economia & Negócios, p. B2

Melhorar comunicação da Petrobras é fundamental', afirma Coelho

Entrevista: José Mauro Ferreira Coelho


O sr. chega com o planejamento estratégico já feito. Ele vai ao encontro do que o sr. acredita?

O planejamento estratégico 2022-2026 está em linha com o que acreditamos. Primeiro, acreditamos no livre mercado, na livre concorrência. Isso é um ponto importante.

Estamos há mais de 50 dias sem reajuste de preço. Isso inibe a atratividade do refino brasileiro?

Não, essa questão está relacionada ao preço dos combustíveis, estamos em um momento de extrema volatilidade. O preço do (petróleo) Brent vai a US$ 130, depois abaixa para US$ 100, fica altamente volátil, e o câmbio também está volátil. Acompanhamos a questão do preço dos combustíveis diariamente e, claro, dentro da nossa política de preços. Entendendo que não podemos ficar passando essas volatilidades, conjunturais, acompanhamos tudo isso e, no momento certo, faremos o reajuste.

Há necessidade de reajustar o diesel e a gasolina por esses dias?

A gente está analisando, a gente trabalha diariamente olhando isso. Estamos preocupados com a questão da volatilidade dos preços e, no momento correto da companhia, vamos fazer o reajuste sem nenhum tipo de problema, para cima ou para baixo.

Os últimos presidentes da Petrobras foram criticados exatamente por fazer reajustes. Isso o preocupa?

É muito claro para a Petrobras e para o governo que, como empresa de capital aberto, listada em Bolsa, e por conta de toda legislação existente interna e externamente, a Petrobras deve praticar preços de mercado. A Petrobras hoje é uma empresa extremamente saudável do ponto de vista financeiro. Nem sempre foi assim. Em 2014, tinha uma dívida de US$ 160 bilhões por causa de uma política equivocada, uma política relacionada a preços de combustíveis. A empresa foi saneada e hoje é robusta e resiliente financeiramente.

A preocupação do governo com o rumo dos preços não pode interferir na política da Petrobras?

A Petrobras tem de praticar os preços de mercado e, por outro lado, é legítimo o governo federal se preocupar com os preços elevados de combustíveis. Isso acontece em todo o mundo. Vemos os Estados Unidos e a Europa preocupados com o preço elevado. É legítimo. E por quê? Porque o preço elevado dos combustíveis afeta toda a economia. Um ponto que quero deixar claro é relacionado ao preço, dando o exemplo da gasolina. O preço médio da gasolina hoje é de R$ 7,27 por litro, e note que a parte da Petrobras nesse total é de R$ 2,84, ou 39% do preço da gasolina para o consumidor.

Quais os outros fatores que compõem o preço?

Existem várias outras parcelas que compõem a gasolina, no caso o etanol anidro, que é adicionado, os tributos federais, as margens de distribuição e revenda e uma das parcelas mais importantes é a do tributo estadual (ICMS), que na média do Brasil significa R$ 1,73 por litro, ou 24% do preço que chega para o consumidor. E isso é uma média, pode chegar a 34%. No caso do imposto federal, está zerado no diesel até 31 de dezembro e no Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), zerado indefinidamente.

Seu antecessor fez vídeos tentando explicar, mas a população não absorvia, e o governo também não.

O governo, como o acionista majoritário, faz as mudanças no momento em que acha necessário, quando precisa de outro perfil. A minha visão é de que é legítima a preocupação com os preços elevados de combustíveis. A Petrobras vai praticar preço de mercado, e o governo está buscando alternativas para que esses aumentos de preços impactem menos o cidadão brasileiro.

O sr. foi indicado pelo atual governo, e estamos a poucos meses das eleições presidenciais. Se o sr. saísse em 2023, o que gostaria de deixar como legado de sua gestão?

Há alguns pontos importantes. Não é uma crítica a nada, é perfil, cada um tem seu perfil. Em termos de planejamento estratégico, estou muito alinhado (com a antiga gestão). Um legado importante que temos de deixar é a questão da comunicação.(...) O povo brasileiro tem de entender esse assunto complexo do petróleo até pela importância que a Petrobras tem. Essa comunicação é fundamental.

Vão ampliar a publicidade?

Claro que a grande mídia é importante. ( .... ) Mas tenho incentivado muito o nosso pessoal aqui a trabalhar com redes sociais. O pessoal já falou que estou muito ativo na rede social. Esse é um movimento importante. É onde a população está hoje, ela entende essa mídia. Temos de nos comunicar nessa mídia. Tenho incentivado. Quer se comunicar com a população? Tem de estar no Linkedin, no Instagram, no Twitter.

O discurso de que o petróleo estava no fim do ciclo ficou mais distante? Ou não está com os seus dias contados?

Continuo acreditando que ainda por muito tempo vamos continuar precisando do petróleo na matriz energética mundial. Até porque petróleo não é só combustível, petróleo tem uma utilização vastíssima em toda a economia mundial. Ficou muito claro no conflito entre a Rússia e a Ucrânia que a transição energética deve ser feita com segurança energética. / M.C. e D. L.

Fatia

'O preço médio da gasolina hoje é de R$ 7,2, e note que a parte da Petrobras nesse total é de R$ 2,84, ou 39%'

"Estamos preocupados com a volatilidade dos preços e, no momento correto, vamos fazer reajuste sem nenhum tipo de problema, para cima ou para baixo."

"A Petrobras hoje é saudável do ponto de vista financeiro. Em 2014, tinha uma dívida de US$ 160 bilhões por causa de uma política equivocada de preços."

"O povo tem de entender esse assunto complexo até pela importância que a Petrobras tem."

José Mauro Ferreira Coelho

Presidente da Petrobras