Título: A arte de se manter rico
Autor: Philipp Goellner
Fonte: Jornal do Brasil, 17/04/2005, Economia & Negócios, p. A18

Metade dos bilionários de duas décadas atrás não soube gerir sua fortuna

Nem sempre os ricos ficam mais ricos, pois geralmente eles gastam demais e não distribuem bem seus investimentos. É o que se pode concluir de um estudo realizado pelo JP Morgan Chase&Co.

Apenas 13% das 400 pessoas mais ricas que apareceram no ranking dos endinheirados da revista Forbes em 1982 entraram na lista do ano passado. Desse total, 205 pessoas saíram do ranking devido à maneira pela qual administraram seu dinheiro, disse o JP Morgan no balanço divulgado na última semana em Zurique, na Suíça. Outras 145 pessoas morreram ou distribuíram sua fortuna a membros de sua família ou a fundações.

- É muito difícil ficar rico, mas também é muito difícil manter-se rico por várias gerações - disse Benoit Dumont, chefe da divisão de administração de grandes fortunas do JP Morgan em Genebra. - Se você quer permanecer rico, você não pode manter seus recursos concentrados em apenas um investimento. É preciso diversificar - ensina o executivo aos postulantes aos postos de mais ricos do mundo.

Os investidores que colocam todo seu dinheiro em uma única ação estão elevando em mais de 50% a chance de queda do poder de compra de seu investimento em um período de 20 anos, aponta o estudo. Por outro lado, quando se opta pela diversificação dos investimentos, a possibilidade de redução do poder de compra de sua fortuna cai para 15%, ensina o gestor de fortunas.

O presidente do conselho administrativo da Berkshire Hathaway Inc., Warren Buffett, o bilionário investidor americano, está entre as 50 pessoas que se mantiveram na lista da Forbes durante o período de 22 anos coberto pelo estudo.

O sucesso de Buffett comprova a tese do banco. Sua permanência entre os mais abonados se deve, em parte, a uma estratégia diversificada de investimentos, disse Dumont. Em quatro décadas, Buffett, 74, transformou a Berkshire, inicialmente uma empresa têxtil, com sede em Omaha, no Estado de Nebraska, em uma companhia de participações que vale US$ 137 bilhões por meio de uma estratégia de aquisição de títulos em baixa e de empresas desvalorizadas. A empresa é a maior acionista da Coca-Cola Co., sediada em Atlanta, da American Express Co., sediada em Nova York, e da Gillette Co., sediada em Boston.

Para manter suas fortunas, as pessoas também têm de ficar atentas a seus gastos, disse Dumont, cuja equipe de 420 funcionários auxilia na administração de aproximadamente US$ 21 bilhões para clientes que têm disponíveis pelo menos US$ 25 milhões para investir.

As pessoas ricas que gastam pelo menos 3% de seus ativos anualmente têm 90% de chance de manter seu poder de compra após 20 anos. Já para aqueles que gastam 5% de sua fortuna, a probabilidade de manterem o mesmo poder de compra em 20 anos cai para menos de 40%, alerta o estudo.

- Acreditamos que, nesta década, os investimentos em ações e bônus proporcionarão retornos de um só dígito - disse Craig Anderson, que desenvolve estratégias de alocação de ativos para os clientes da divisão de administração de grandes fortunas do JP Morgan na Europa. - Se você gastar 5% de sua fortuna e a inflação for de 2% ou 3%, é muito fácil fazer com que sua riqueza passe a registrar saldo negativo após um certo período.

Em 2003, a divisão de administração de grandes fortunas do JP Morgan ficou na sétima posição do ranking mundial em termos de ativos administrados, segundo a Scorpio Partnership Ltd., empresa de consultoria em gerenciamento de fortunas sediada em Londres. O UBS AG, sediado em Zurique, é o maior administrador mundial de fortunas, contabilizando 778 bilhões de francos suíços (US$ 641 bilhões) em ativos de clientes endinheirados até o final do ano passado. A Merrill Lynch & Co. ficou em segundo no ranking.