O Globo, n. 31445, 10/09/2019. País, p. 6

Transformação não virá por via democrática, afirma Carlos


O vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, publicou ontem, no Twitter, que a transformação do Brasil, segundo o seu entendimento, não será rápida se forem seguidas as regras da democracia.

“Por vias democráticas a transformação que o Brasil quer não acontecerá na velocidade que almejamos... e se isso acontecer. Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando de jeitos diferentes!”, escreveu Carlos.

A mensagem foi postada após o vereador comentar sobre os esforços que, segundo ele, o governo do pai faz para acabar com os problemas que atrapalham o país. Segundo o vereador, o governo tenta colocar o Brasil no caminho certo, mas o trabalho não é reconhecido.

“O governo Bolsonaro vem desfazendo absurdos que nos meteram no limbo e tenta nos recolocar nos eixos. O enredo contado por grupelhos e os motivos cada vez mais claro$ lamentavelmente são rapidamente absorvidos por inocentes. Os avanços ignorados e os malfeitores esquecidos”, escreveu o vereador, na rede social.

Carlos concluiu afirmando que, “como meu pai, também estou muito tranquilo e o poder jamais me seduziu. Boa sorte sempre a todos nós!”.

A publicação provocou reações instantâneas nas redes sociais. Em nota, o PSDB reagiu e criticou a publicação de Carlos: “Por vias democráticas o brasileiro elegeu presidentes, apoiou impeachment dos que cometeram irregularidades. Por vias democráticas, o brasileiro elegeu Bolsonaro e tirou o PT. Figuras autoritárias insistem em transformações que não sejam pelas vias democráticas. Mas a democracia é a única opção possível”.

O youtuber Felipe Neto, que comprou milhares de quadrinhos com beijo gay na Bienal do Livro do Rio após operação da prefeitura para tentar recolher os materiais, respondeu a Carlos e, em uma hora, já tinha 25 mil curtidas na rede social: “Se você está calado nesse momento, você é conivente. Todas as ameaças estão sendo feitas. A democracia está em risco”.

A postagem foi feita enquanto seu pai, o presidente da República, está internado em São Paulo após fazer cirurgia para corrigir uma hérnia (detalhes na reportagem abaixo). Até o fechamento desta edição, Bolsonaro não havia comentado o texto do filho.

A interinidade de Mourão

Antes do post de Carlos, o presidente em exercício, Hamilton Mourão, negou ontem que tenha adotado um perfil mais discreto do que no início do ano e afirmou que não cabe a ele, como vice-presidente, se opor publicamente ao presidente Jair Bolsonaro. Mourão assumiu a Presidência devido à cirurgia a que Bolsonaro foi submetido no último domingo, em São Paulo, e a previsão é que fique no cargo até quinta-feira.

— Não mudou nada. Eu acho que uma coisa vocês têm que entender, não sei se com intenção ou não, (há) uma tentativa de colocar aí eu e o presidente em polos opostos. Não é isso, eu sou vice- presidente do presidente Bolsonaro. Então, não compete a mim tecer críticas públicas ao presidente. Qualquer coisa que eu tiver que falar, eu faço para ele e não publicamente. Eu acho que só isso que tem que ser entendido — disse Mourão, ao deixar o Palácio do Planalto.

De acordo com Mourão, salvo em caso de emergência, não há perspectiva de decisão importante durante sua interinidade:

— Não temos nenhuma perspectiva, não tem nenhuma votação importante ocorrendo aí, não tem nenhuma decisão importante a ser tomada nesses próximos dias, pode aguardar tranquilamente o retorno do presidente. Só se ocorrer alguma emergência, que a gente nunca sabe.

O presidente em exercício visitou Bolsonaro ontem no hospital. Ele ficou 18 minutos no local.

— Foi rápida (a visita) porque o presidente, pelo tipo de cirurgia, não pode ficar falando muito tempo. O presidente está muito bem. Nunca esteve tão bem assim em pós- cirúrgico — disse Mourão.

“Só vejo todo dia a roda girando em torno do próprio eixo e os que sempre nos dominaram continuam nos dominando”

Carlos Bolsonaro, vereador