O Estado de S. Paulo, n. 46952, 06/05/2022. Política, p. A10

Mobilização pelo voto atrai 2 milhões de jovens para o processo eleitoral

Weslley Galzo
Lauriberto  Pompeu
Rayanderson  Guerra


A mobilização para estimular os jovens a emitir o título de eleitor surtiu efeito e resgatou o interesse pelo voto na faixa entre 16 e 18 anos. É o que mostram os números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) referente às últimas eleições. De janeiro a abril deste ano, o País ganhou 2.042.817 eleitores aptos a votar pela primeira vez. A taxa de jovens que se cadastraram para ir às urnas contraria previsões de baixa representação por descrédito na política, descontentamento com campanhas polarizadas e até receio de “cancelamento” nas redes sociais.

Os dados divulgados ontem pelo TSE, mesmo que ainda parciais, revelam que o número de eleitores jovens cresceu 47,2% em relação ao mesmo período de 2018 e mais de 57% em comparação aos quatro primeiros meses de 2014.

O crescimento coincide com a mobilização de artistas, políticos, influenciadores digitais e do próprio TSE para que os jovens emitissem título de eleitor. A cantora Anitta e o ator Leonardo Di Caprio, além de Mark Ruffallo (o Hulk dos cinemas) e Mark Hamill (o Luke Skywalker, de Star Wars), se engajaram no movimento.

O TSE também veiculou a campanha “Rolê das Eleições”, com o objetivo de atrair o voto jovem por meio de parcerias com times de futebol, instituições da sociedade civil e influenciadores digitais.

Agora, grupos que incentivaram o alistamento eleitoral têm novo objetivo: evitar altos níveis de abstenção, de votos nulos e em branco no dia 2 de outubro, quando haverá o primeiro turno.

Na prática, 2 milhões de novos eleitores, num universo de aproximadamente 150 milhões de pessoas aptas a votar, podem mudar o resultado de uma disputa. “Se levarmos em conta que, no segundo turno entre Dilma e Aécio, em 2014, ela levou por apenas 3,5 milhões de votos a mais, esses jovens podem fazer a diferença numa eleição tão ou mais polarizada do que aquela”, disse o analista político Bruno Carazza, professor da Fundação Dom Cabral, ao lembrar o confronto entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). “Resta saber quem será mais hábil em conquistar os corações e mentes desses jovens.”

Participação. A estudante Maria Luiza Chagas vai votar pela primeira vez e quase perdeu o prazo para emissão do título de eleitor. “Não sou fã de político, mas, só de olhar a situação, temos motivos para não deixar de votar. Achei que não poderia tirar o título porque completei 16 anos no mês passado. Mas uns amigos da minha escola disseram que tinham tirado e que eu poderia fazer”, disse ela ao deixar a sede da zona eleitoral de Copacabana, na zona sul do Rio.

Assim como Maria Luiza, outros jovens foram influenciados pela campanha do primeiro voto nas redes. Somente em março foram registrados mais de 522 mil novos eleitores de 16 a 18 anos. No mês passado, o número saltou para 991 mil – um crescimento de 89,7%.

A polarização da disputa entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não parece interessar a juventude que vota pela primeira vez. Especialistas ouvidos pelo Estadão avaliam que o engajamento dos jovens nos rumos políticos do País está mais ligado a objetivos práticos, como a vontade de melhorar de vida. Dados do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea) mostram que 23% dos desempregados, no ano passado, eram jovens de 16 a 29 anos, quase um terço da população economicamente ativa.

Economia. Além disso, números do Atlas da Juventude de 2021 indicam que as faixas etárias de 15 a 19 anos foram as que mais perderam renda entre 2014 e 2019. A queda na capacidade de consumo, nesse grupo, chega a ser sete vezes maior do que em outros.

“Os jovens, além de terem o desejo da independência financeira, contribuem com as finanças da casa. Os boletos estão chegando e com uma inflação muito alta. O fator econômico influencia muito no engajamento da juventude”, disse Larissa Dionísio, produtora executiva do Instituto Update.

Mestre em Sociologia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul e pesquisadora de opinião pública, Jaqueline Quaresemin afirmou, por sua vez, que os jovens terão este ano o papel de mobilizar discussões nas redes sociais, o que pode influenciar nos rumos das campanhas eleitorais.

Eleita em 2018, com apenas 22 anos, Luísa Canziani (PSDPR) é a mais nova deputada federal. Canziani chegou à Câmara pelo PTB de Roberto Jefferson, mas migrou para o PSD no mês passado, após se desentender com o político.

“Eu entendo que essa mobilização dos jovens se dá, sobretudo, por um anseio de se sentir representado, ter suas demandas atendidas e suas angústias supridas, com mais empregabilidade e educação, por exemplo”, afirmou Luísa, que integra a Frente Parlamentar da Educação.

O presidente do TSE, ministro Edson Fachin, classificou como “impressionante” a resposta da juventude para participar das eleições de outubro. “Desta vez, o que vimos foi a sociedade brasileira mobilizada pela democracia”, disse o ministro.

Comemoração

Presidente do TSE, Edson Fachin classificou de ‘impressionante’ número de jovens que se alistaram