Título: Computadores da Câmara à beira do colapso
Autor: Mariana Santos
Fonte: Jornal do Brasil, 17/04/2005, Brasília, p. D1

Sistema está sucateado, embora, dois anos atrás, a casa tenha gasto R$ 5,8 milhões com aluguel de equipamentos

O sistema de informatização da Câmara Legislativa vive à beira de um colapso. Os dois únicos servidores em funcionamento na Casa datam de 1996 (um terceiro teve uma placa queimada, mas nem o fabricante produz mais peças tão antigas), a estrutura de rede vive sobrecarregada e os equipamentos de energia continuada estão prestes a falir, podendo provocar um blecaute geral. Não bastasse, o número de funcionários que prestam serviço na Coordenadoria de Modernização e Informática (CMI) é metade do necessário para atender os mais de 500 computadores da Câmara. A situação é caótica, embora, há dois anos, a Casa tenha gasto R$ 5,8 milhões com aluguel de equipamentos O resultado não poderia ser outro: o banco de dados freqüentemente está fora do ar, dificultando o acesso ao sistema de informações legislativas - o chamado Legis - e até mesmo o controle dos trâmites de projetos de lei. Em fevereiro, chegou-se ao cúmulo de a rede ficar inerte por três semanas, o que ocasionou o protocolo de uma série de projetos iguais.

- Tivemos que voltar à era dos boletins de atualização, escritos à mão, para não perder o controle de nada - conta o chefe da Diretoria Legislativa, Augusto Bravo. Ele teve que adiar os planos de expandir o acesso ao Legis para a internet, hoje disponível apenas na intranet, e de criar uma biblioteca virtual para consultas de leis - projeto ainda inédito nas assembléias legislativas - por falta de estrutura.

Segundo o coordenador da CMI, Luiz Carlos Hillerman, que assumiu o posto em janeiro deste ano, faltou investimento em infra-estrutura e em softwares de proteção nos últimos quatro anos. Ele explica que os equipamentos são muito antigos, de tecnologia limitada e ultrapassada, e que a necessidade de atualização é imediata. A velocidade de acesso à rede interna é dez vezes mais lenta do que o necessário e, para piorar, ''cai'' com freqüência.

Nunca se sabe, por exemplo, quando será possível ler notícias no site da Casa. O chefe da Comunicação Social, Paulo Pestana, conta que para manter a página alimentada quando não há acesso à internet, por falha na rede, os jornalistas procuram a CMI com um disquete na mão para jogar a notícia no ar. Ainda assim, às vezes o sistema trava e não aparece nada para o leitor.

A situação só não é ainda mais caótica nos gabinetes porque muitos deputados preferiram assinar uma conexão banda larga, de alta velocidade, e adquirir equipamentos mais modernos. No gabinete do deputado Augusto Carvalho (PPS), por exemplo, dos nove computadores usados por seus assessores, quatro foram comprados pelo parlamentar - um gasto de cerca de R$ 4,5 mil. Dos cinco oferecidos pela Câmara, três são considerados obsoletos (Pentium 100, 32 RAM). De acordo com seus assessores, a falta de infra-estrutura dificultava consultas à internet para a elaboração de projetos de lei, salvar arquivos relevantes ou mesmo responder e-mails dos eleitores.

A informática é de responsabilidade da vice-presidência, ocupada pelo deputado Chico Floresta (PT). Ele pretende definir em no máximo 15 dias a melhor forma de contratar uma empresa que resolva a questão: se por licitação ou contratação direta. No ano passado, a pedido do então presidente Benício Tavares (PMDB), a Codeplan elaborou um projeto de modernização, que acabou sendo ignorado. Segundo Floresta, a companhia não forneceu valores para os aluguéis de equipamentos, modalidade muito mais onerosa do que a compra.

- O problema é que uma licitação levaria pelo menos seis meses e a necessidade é urgente. Há risco de pane. De qualquer forma, estou preparando dois cenários para apresentar na próxima reunião da Mesa Diretora, que acontecerá na última semana deste mês - disse Floresta.

Para aumentar a eficiência nos atendimentos, está prevista a abertura de dez vagas para analistas de sistemas, seis para programadores, dois para técnicos de manutenção e três para funcionários administrativos no concurso público, cujo edital poderá ser publicado ainda neste semestre.