O Globo, n. 31443, 08/09/2019. País, p. 8
Um ano após campanha acirrada, Witzel e DEM ensaiam cessar-fogo
Thiago Prado
Quase um ano depois de uma campanha com troca de acusações pesadas entre o governador Wilson Witzel, do PSC, e Eduardo Paes, do DEM, está em curso uma aproximação entre os dois partidos que visa a um cessar fogo nas eleições municipais do ano que vem. Paes é um potencial candidato a um terceiro mandato como prefeito, e Witzel, até o momento, ainda não tem um nome para disputar a sucessão de Marcelo Crivella (PRB). O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), é o principal articulador do movimento de aproximação entre seu partido e o PSC.
O acordo que beneficiou o Rio na distribuição de recursos do megaleilão do pré-sal, fechado na semana passada, foi costurado pelo próprio com Witzel. Ao mesmo tempo, o DEM negocia, como antecipou a colunista Berenice Seara, do “Extra”, assumir a Secretaria de Obras no governo do Rio, pasta com capilaridade e orçamento para um partido que sempre esteve acostumado a estar presente na máquina pública da prefeitura ou do estado.
— Achamos que o governo Witzel tem um caminho para dar certo no Rio na área de segurança — disse Maia, na semana passada, em tom completamente diferente do adotado na campanha de 2018 pelo DEM.
No ano passado, Witzel foi acusado por Paes de envolvimento com o empresário Mario Peixoto, ligado ao ex-presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) Jorge Picciani (MDB) e acusado de corrupção por Jonas Lopes, ex-presidente do Tribunal de Contas do Estado (TCE).
Foco em Crivella
Despachando diariamente na empresa chinesa de veículos elétricos BYD, na Praça Mauá, no Centro do Rio, Paes há tempos não é um opositor de Witzel — seu foco é a oposição a Crivella nas redes. Embora ainda não admita a candidatura em 2020, o ex-prefeito continua com encontros políticos e recebendo pesquisas eleitorais. — Estou feliz, mas com menos tesão. Queria muito mais estar enfrentando os desafios da segurança pública do estado. É ótimo ganhar bom salário, mas tenho uma vocação — disse há duas semanas, em rara entrevista, ao canal Política Etílica, no YouTube.
Depois de ser derrotado nas disputas de 2016, com o revés do deputado federal Pedro Paulo, então no MDB, e, em 2018, Paes teme um novo resultado negativo. O ex-prefeito ainda tem dúvidas se a onda de renovação na política continuará (e, por isso, não ter o governador como opositor seria útil). Durante a campanha, Witzel insistiu muitas vezes na confissão de recebimento de propina feita por Alexandre Pinto, ex-secretário de Paes, em depoimento ao juiz Marcelo Bretas. Paes já decidiu que anunciará a opção por concorrer ou não logo no início do ano que vem, e não mais às vésperas da campanha.
Para Witzel, a aproximação com o DEM significa três vitórias: ter interlocução com o presidente da Câmara dos Deputados, fundamental na tarefa de conseguir recursos para o estado; ampliar a base na Alerj, onde a articulação política do governo de vez em quando patina; e tentar se vincular a um projeto próprio para a prefeitura distante do bolsonarismo, a quem Witzel ensaia enfrentar em 2022 com uma candidatura presidencial.
Até o fim do primeiro semestre, o deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL) era o nome mais cotado para Witzel apoiar. Embora tenha sido lançado pré-candidato pelo senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), Amorim não é querido pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC) e terá dificuldades para se viabilizar como o candidato da família no ano que vem. Dentro do governo Witzel, dois secretários tentam se cacifar para a disputa: Cleiton Rodrigues, de Governo, e Pedro Fernandes, de Educação. Devido ao desconhecimento da população e à falta de suporte político de ambos, o plano de ficar neutro ou até mesmo apoiar Paes não é descartado por Witzel.